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domingo, 28 de maio de 2023

Escrito por em 28.5.23 com 0 comentários

Golfe (II)

No início do ano, quando percebi que já fazia um bom tempo que eu não falava sobre esportes, decidi pesquisar pra ver sobre quais eu ainda não tinha falado. Acabei encontrando alguns da "família" do golfe, e isso me deu uma ideia: assim como, um dia, eu fiz um segundo post sobre beisebol para falar sobre esportes que se parecem com beisebol, hoje eu vou fazer um segundo post sobre golfe, para falar sobre esportes que se parecem com golfe.

Vamos começar pelo que é mais conhecido aqui no Brasil, o minigolfe. O minigolfe surgiu no início do século XX, com a África do Sul clamando para si a invenção, dizendo que os primeiros campos próprios para a prática do esporte teriam sido abertos lá em 1910; o primeiro registro escrito de uma partida de minigolfe, porém, data de junho de 1912, e é uma reportagem do jornal The Illustrated London News, que comenta sobre a abertura, em Londres, de um campo de golfe em miniatura, coberto e com piso de carpete ao invés de grama, chamado Golfstacle - uma mistura das palavras golf e obstacle. O Golfstacle faria um sucesso moderado e não duraria muito tempo, mas motivaria um grupo de empresários norte-americanos a criar uma empresa chamada Thistle Dhu (um trocadilho com this will do, algo como "vai servir"), especializada em montar campos de minigolfe em carpete. Fundada em 1916 em Pinehurst, Carolina do Norte, a Thistle Dhu exportaria campos para todo o país, mas iria à falência durante a Grande Depressão da década de 1930.

Antes disso, um inventor chamado Thomas McCulloch Fairbairn, fanático por golfe, revolucionaria o esporte inventando nada menos que a grama artificial, em 1922. Fairbarn gostava dos campos da Thistle Dhu, mas achava que o carpete não proporcionava a verdadeira experiência de jogar golfe. Ele então misturaria cascas de sementes de algodão, óleo de algodão, areia e corante, e obteria um material de textura quase igual ao da grama natural, que fazia com que a bolinha se comportasse exatamente como se estivesse em um campo de golfe verdadeiro, com a vantagem de que não precisava ser regado, aparado, nem exposto ao sol - além de ser muito mais barato que o carpete da Thistle Dhu, já que as cascas de sementes de algodão, material normalmente usado para fazer ração para gado bovino, eram vendidas a centavos por tonelada.

A grama artificial de Fairban seria responsável pelo surgimento de milhares de campos de minigolfe por todos os Estados Unidos, cerca de 150 deles apenas na cidade de Nova Iorque. Além de inventá-la, ele também seria o responsável por adicionar ao jogo "morrinhos", curvas inclinadas e piscinas, algo que não era possível com o carpete, com todos os obstáculos dos campos de carpete tendo de ser criados separadamente e montados sobre o campo. Por essas duas razões, Fairbarn é considerado o inventor do minigolfe moderno, e, até hoje, há um torneio em sua homenagem, a Fairbarn Cup, disputada anualmente em Seven Mile Island, Nova Jérsei. Infelizmente, a empresa de Fairbarn também iria à falência durante a Grande Depressão, e pouquíssimos campos originais criados por ele sobreviveriam até hoje, com a esmagadora maioria tendo sido desmontada e convertida em outros empreendimentos antes do final da década de 1930.

Por outro lado, durante a Grande Depressão, o minigolfe se desenvolveria e popularizaria na Europa. Em 1926, o alemão Franz Schröder viajaria aos Estados Unidos, jogaria minigolfe, compraria grama artificial e, ao retornar a seu país de origem, abriria o primeiro campo de minigolfe da Alemanha. O primeiro da Suécia teria uma história semelhante, com os irmãos Edwin e Eskil Norman, que moraram nos Estados Unidos durante a década de 1920, retornando a seu país de origem em 1930 e fundando, um ano depois, a Norman och Normans Miniatyrgolf, que fabricaria, montaria e instalaria campos de minigolfe na Suécia, Noruega, Dinamarca e, a partir da década de 1960, Reino Unido. Inicialmente, os Norman não tinham acesso à grama artificial, e usavam saibro como superfície; na década de 1960, a empresa passaria a usar feltro, que tinha uma vantagem sobre os três materiais usados até então (carpete, saibro e grama artificial): campos de minigolfe de feltro podiam ser montados ao ar livre, pois o feltro não era afetado nem pelas baixas temperaturas do inverno, nem pela chuva, que passava direto por ele em direção ao solo, sem encharcá-lo. Depois dos Norman, até mesmo empresas dos Estados Unidos passariam a usar feltro como superfície.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, em 1938, dois irmãos também fanáticos por golfe, Joseph e Robert Taylor, decidiriam tentar ressuscitar o minigolfe, e, para aumentar o interesse dos jogadores, criariam aquela que é sua principal característica: os obstáculos temáticos. Até então, todos os obstáculos de um campo de minigolfe lembravam os de um campo de golfe comum, mas os Taylor adicionariam moinhos de vento pelos quais a bolinha tinha de passar no intervalo de suas pás, canos que serviam como túneis, castelinhos, tobogãs, poços dos desejos, e toda sorte de construções que, além de aumentar a complexidade do jogo, o deixavam lindo. A Taylor Brothers logo começaria a receber várias encomendas de empresários interessados em abrir campos de minigolfe em suas cidades, e, na década de 1950, conseguiriam até um contrato com o Exército dos Estados Unidos, para fabricar campos de minigolfe que seriam montados nas bases onde os soldados norte-americanos estavam aquartelados durante a Guerra da Coreia.

Também na década de 1950, inspirado pelo sucesso da Taylor Brothers, o empresário Don Clayton criaria uma fábrica de campos de minigolfe chamada The American Putt-Putt Company; seus campos se tornariam tão populares que, até hoje, nos Estados Unidos, putt-putt é tipo um apelido do minigolfe, como ocorre com pingue-pongue em relação ao tênis de mesa. Logo, outras empresas, como a Lomma Golf, fundada pelos irmãos Al e Ralph Lomma em 1955, e a Arnold Palmer Miniature Golf, fundada por Frank Abramoff em 1961 e batizada em homenagem a um dos maiores jogadores de golfe de todos os tempos (que, bizarramente, estava em atividade na época, e não tinha participação alguma na empresa) também começariam a criar seus próprios campos, sempre com obstáculos criativos, o que faria com que o minigolfe logo se tornasse uma parte importante da cultura norte-americana, presente em parques de diversões, shoppings, e sendo, em muitas cidades pequenas, o point de encontro da juventude local.

Mas o minigolfe também é um esporte, e seu primeiro torneio competitivo, com prêmios em dinheiro, seria o National Tom Thumb Open, disputado pela primeira vez em 1920, com qualificatórias em todos os 48 estados (nem o Alasca, nem o Havaí faziam parte dos Estados Unidos na época) e mais de 200 jogadores participando da final. Durante a Grande Depressão, os torneios seriam cancelados, mas começariam a surgir os torneios europeus, com o primeiro sendo o Campeonato Nacional Sueco, em 1939. A Suécia, aliás, seria o primeiro país a fundar uma federação nacional de minigolfe, em 1937; o segundo, a Suíça, só o faria em 1954, e a dos Estados Unidos só seria fundada em 1995, porque, depois da Grande Depressão, o minigolfe passaria a ser visto lá como um passatempo de jovens, com o lado esportivo só sendo redescoberto na década de 1990.

Também seria na Suécia que seria fundada, em 2000, a Federação Mundial de Minigolfe Esportivo (WMF), que hoje conta com 51 membros dos cinco continentes - sendo que o Brasil não é membro. O mais importante campeonato da WMF é o Mundial, disputado a cada dois anos desde 2003. Os campeonatos da MWF seguem o chamado "estilo europeu", que se desenvolveu na Suécia e se popularizou na Europa continental; por causa disso, todos os melhores jogadores do ranking são europeus, e os dos Estados Unidos não costumam ter bons resultados, assim como os de países como Reino Unido e Japão, nos quais o "estilo americano" é mais popular. A WMF é membro fundadora da AIMS, uma espécie de confederação das federações internacionais dos esportes que ainda não são reconhecidos pelo COI, e um de seus objetivos, assim como o de aparentemente todas as outras federações esportivas internacionais, é colocar o minigolfe nas Olimpíadas, o que está bem longe de se concretizar no momento.

Pelas regras da WMF, o minigolfe é jogado em 18 buracos. Diferentemente do que ocorre no golfe, onde todos os buracos estão espalhados pelo mesmo campo, no minigolfe cada buraco tem sua própria pista, delimitada por linhas ou muretas, cada pista com sua própria teeing area; o ideal é que o circuito tenha 18 pistas, mas as regras da WMF permitem circuitos de no mínimo 12 pistas, caso no qual algumas serão jogadas duas vezes. Cada toque do taco na bola vale 1 ponto, e, se o jogador não conseguir colocar a bola no buraco após 6 tacadas, ele ganha mais 1 ponto e é obrigado a passar para a pista seguinte - portanto, o número máximo de pontos em cada pista é 7. Em um torneio de stroke play, ganha quem fizer menos pontos (com o mínimo possível sendo 18), enquanto no match play ganha quem vencer mais pistas (com cada pista sendo vencida pelo jogador que colocar a bola no buraco em menos tacadas). Em caso de empate, é disputado um mini-torneio em morte súbita, começando pela pista 1; a cada pista, os jogadores que colocarem a bola no buraco com mais tacadas vão sendo eliminados, até que só reste um. O único tipo de taco usado é o putter, e a bola deve ter entre 37 e 43 mm de diâmetro e não pode quicar mais de 85 cm quando cair de uma altura de 1 metro, mas, fora isso, não é padronizada - segundo a própria WMF, existem centenas de tipos de bolas diferentes, variando em material, dureza, aspereza e peso, com o jogador sendo livre para escolher a que melhor se adequa a seu estilo. Um jogador pode, inclusive, trocar de bola entre uma pista e outra, mas deve terminar cada pista com a bola com a qual a começou.

Atualmente, a WMF reconhece quatro modalidades, todas podendo ser disputadas em simples masculinas ou femininas, duplas ou equipes masculinas, femininas ou mistas, tanto em stroke play quanto em match play: concreto, miniaturegolf, feltgolf e MOS. Na modalidade concreto (também conhecida, em alguns países, como beton, B, Bongni, ou Abteilung 1) a superfície, obviamente, é de concreto, e as regras definem 18 pistas, que devem sempre ser jogadas na mesma ordem, com obstáculos simples como inclinações, rampas, túneis e curvas. A modalidade miniaturegolf (também conhecida como eternite, E, EB, Europabana ou Abteilung 2) tem superfície de eternite (um material sintético normalmente usado para fazer telhas) e 28 pistas, das quais são escolhidas 18, com obstáculos complexos como pirâmides, loopings, rampas, escadas e pontes. A modalidade feltgolf (também conhecida como feltro, F ou SFR) tem superfície de feltro e 32 pistas das quais são escolhidas 18, que combinam obstáculos simples e complexos; ao contrário do que se possa imaginar, normalmente o feltro é azul claro, e não verde. Já a modalidade MOS (sigla para Minigolf Open Standard) é a mais recente, inspirada no "estilo americano", e basicamente cobre qualquer tipo de pista que não faça parte das outras três, sem padronização de desenho ou superfície, e podendo usar os obstáculos chamados supercomplexos, como moinhos e castelinhos.

Torneios podem escolher qual modalidade vão adotar, mas nenhum torneio oficial da WMF jamais escolheu a MOS - todas as edições do Mundial, por exemplo, foram disputadas em concreto ou eternite. Como a WMF não é a única entidade a organizar torneios de minigolfe, porém, há torneios de prestígio que usam o que, para a WDF, seria a modalidade MOS, e atraem, principalmente, os jogadores dos Estados Unidos e do Reino Unido, como o US Masters, US Open, British Open, World Crazy Golf Championships e o World Adventure Golf Masters. Também vale citar o Campeonato Europeu, organizado pela WDF e segundo em importância abaixo apenas do Mundial, disputado a cada dois anos desde 2004, em quase todas as edições na modalidade feltro.

Vamos passar agora para um esporte que não é muito conhecido aqui no Brasil, mas tem tudo para se popularizar: o futegolfe, que consiste em encaminhar a bola até o buraco com chutes, ao invés de com um taco. O futegolfe usa uma bola comum de futebol, e é disputado em um campo comum de golfe; como o buraco para acomodar a bola precisa ser bem maior, ele nunca é cavado no green, o que poderia danificar irreversivelmente o campo, mas no fair, e sempre fora do trajeto usual das bolas de golfe. É mais fácil conduzir a bola com os pés do que com o taco, mas, principalmente devido a seu peso, a bola de futebol não viaja tanto quanto a de golfe; para acomodar essas duas características, a distância da teeing area até o buraco é menor, e o Par de cada buraco fica entre 3 e 5. Obviamente, cada chute na bola conta como uma tacada, e faltas são punidas acrescentando um chute ao total do jogador.

O futegolfe é sempre jogado no estilo match play, com os jogadores sendo pareados dois a dois, o vencedor de cada embate avançando e o perdedor sendo eliminado, até os dois melhores se enfrentarem na final (e os perdedores das semifinais disputando a medalha de bronze). A cada buraco, o jogador que cumprir o percurso com menos chutes marca um gol - ninguém marca gol em caso de empate - e, ao final dos 18 buracos, quem tiver marcado mais gols ganha o embate; caso ambos estejam empatados ao final do último buraco, o embate recomeça do primeiro buraco com morte súbita, sendo vencedor o jogador que primeiro marcar um gol. O campo de futegolfe normalmente tem 9 buracos, com a partida inteira sendo composta por 18 buracos, ou seja, cada buraco é disputado duas vezes, com a partida os seguindo em ordem crescente, depois em decrescente - primeiro do 1 ao 9, depois do 9 ao 1, sendo o 1 tanto o primeiro, quanto o último, quanto o primeiro do desempate se for necessário.

O futegolfe foi inventado em 2009, na Holanda, por Michael Jansen e Bas Korsten, irmão do ex-jogador profissional de futebol Willem Korsten. Entre 1999 e 2001, Willem jogou pelo Tottenham Hotspur, da Inglaterra, e, ao final dos treinos, tinha o hábito de apostar com os colegas de time quem conseguiria levar a bola do campo para o vestiário no menor número de chutes. Infelizmente, devido a inúmeras lesões, Willem teve de se aposentar cedo, aos 26 anos, e, ao retornar para a Holanda, conseguiu um emprego de treinador das divisões de base do NEC Nijmegen, time pelo qual começou sua carreira, mantendo a brincadeira, agora disputada entre seus comandados, ao final de cada treino. Bas assistiria a um treino comandado pelo irmão, e teria a ideia de criar um esporte que misturasse futebol e golfe; para pô-la em prática, ele chamaria Jansen, que o ajudaria a reunir uma seleção de jogadores e ex-jogadores profissionais de futebol da Holanda e da Bélgica, que disputariam o primeiro torneio de futegolfe em um dos campos de golfe de maior prestígio da Holanda, o Golfbaan Het Rijk - localizado em Nijmegen, mesma cidade do NEC.

O torneio, vencido por Theo Janssen, seria notícia em todos os principais meios de comunicação do país, e ajudaria o futegolfe a ter um início meteórico - antes do final de 2009, outros campos de golfe da Holanda, Bélgica e Hungria já estavam organizando seus próprios torneios, sempre com bastante procura. Em 2010, o esporte seria introduzido na Argentina, que hoje é uma das principais potências do futegolfe, e, no ano seguinte, nos Estados Unidos, que foi o primeiro país a fundar uma liga profissional, a American FootGolf League, e hoje já conta com mais de cem campos de golfe que também oferecem a prática do futegolfe a seus sócios. A popularização do futegolfe nos Estados Unidos coincidiria com um declínio da popularidade do golfe entre os jogadores mais jovens - muitos campos estavam em vias de fechar por falta de sócios, e acabaram sendo salvos da falência pelos jogadores de futegolfe.

Em junho de 2012, as federações nacionais de Holanda, Bélgica, Hungria, Suécia, Argentina, Estados Unidos, Austrália e Japão fundariam a Federação Internacional de Futegolfe (FIFG), que hoje conta com 39 membros dos cinco continentes, incluindo o Brasil. Naquele mesmo ano, 79 jogadores dos oito membros fundadores disputariam a primeira Copa do Mundo de Futegolfe, na Hungria, que teria apenas a competição de simples masculinas (vencida por um húngaro). A segunda edição seria disputada em 2016 na Argentina, e contaria com disputas de simples masculinas (vencida por um argentino) e equipes mistas (vencida pelos Estados Unidos); essa edição teria um enorme salto no número de participantes em relação à primeira, contando com 227 jogadores de 26 países. A ideia da FIFG era realizar a Copa do Mundo a cada dois anos, de forma que a terceira edição ocorreria em 2018 no Marrocos, com participação de 503 jogadores de 33 países, competindo nas simples masculinas (vencida por outro argentino), simples femininas (vencida por uma inglesa) e equipes mistas (vencida pela França). A edição seguinte, no Japão, em 2020, teve de ser cancelada pela pandemia, e somente será realizada nesse ano de 2023, nos Estados Unidos, com a participação de mais de mil jogadores, em disputas de simples masculinas, simples femininas, equipes masculinas e equipes femininas. Atualmente a FIFG discute se a próxima edição será em 2025 ou em 2026, mas é certo que, a partir de então, voltará a ser a cada dois anos.

Além da Copa do Mundo, a FIFG organiza a FIFG World Tour, uma série de torneios anuais nos mesmos moldes do que ocorre no golfe (com muitos deles, inclusive, sendo disputados como evento de abertura de torneios de golfe), e a FIFG World Champions Cup, série de desafios entre equipes. O futegolfe é hoje um dos esportes que cresce mais rápido no mundo, com o número de jogadores filiados e países interessados em fundar federações nacionais aumentando a cada ano - o único continente no qual a FIFG tem dificuldade em se firmar é a África, onde, apesar do enorme interesse em futebol, quase não há campos de golfe ou interesse pelo golfe, com o único país africano membro da FIFG sendo a África do Sul. O rápido crescimento do futegolfe motivaria a GAISF, organização que, dentre outras coisas, ajuda federações esportivas a preencher os requisitos para que seus esportes sejam aptos a fazer parte das Olimpíadas, a incluir a FIFG em sua lista de "membros observadores" - o que equivale a dizer "estamos de olho em vocês e temos interesse em ajudar".

O futegolfe possui um parente, criado na Alemanha em 1977 pelo ex-jogador profissional de futebol Andreas Oligmüller, chamado Buschball. Ao invés de um buraco, o Buschball usa um poste, e pode ser jogado em qualquer campo gramado, não necessariamente um campo de golfe. O objetivo é fazer com que a bola acerte o poste com no máximo nove chutes, com o jogador somando 10 pontos caso não consiga; a partida é disputada em stroke play, com aquele que somar menos pontos ao final sendo o vencedor. O Buschball nunca se popularizou fora de seu país de origem, mas lá ele conta até com um disputado torneio profissional entre clubes.

Vale citar também um esporte mais antigo, do qual muitos acham que o futegolfe é uma variante, chamado codeball. O codeball foi inventado em 1929, em Chicago, Estados Unidos, pelo médico William Edward Code, que buscava criar um esporte que pudesse ser disputado em parques, sem grande custo em equipamentos. O codeball usava uma bola de borracha de 15 cm de diâmetro, e o objetivo de cada jogador era fazer com que ela fosse levada do ponto inicial até uma tigela no menor número de chutes possível. Embora tenha sido inventado para ser jogado em parques, o codeball logo se tornaria tão popular que começariam a surgir campos próprios, com obstáculos que deixavam a partida mais emocionante; um campo "profissional" de codeball contava com 14 tigelas, e pelo menos 12 campos seriam inaugurados nos Estados Unidos na primeira metade da década de 1930. Um torneio profissional chegaria a ser realizado em St. Louis em 1935, mas, com o início da Segunda Guerra Mundial, o codeball decairia em popularidade até desaparecer, não sendo hoje mais jogado em lugar nenhum. Code também inventaria um outro esporte, uma mistura de futebol e squash, no qual a mesma bola do codeball deveria ser chutada contra uma parede e devolvida pelo oponente após um quique; ele chamaria esse esporte de codeball on the court (algo como "codeball de quadra"), e, para diferenciar os dois, passaria a chamar o original de codeball on the green (algo como "codeball de grama"), nome que nunca pegou.

O terceiro esporte que veremos hoje também foi criado em 1929, e se chama pitch and putt. Como vocês devem saber, o golfe é disputado em um campo gigantesco, que ocupa muito espaço, e cuja manutenção é muito cara. Na década de 1920, na Irlanda, alguns donos de clubes começaram a pensar em regras alternativas para o golfe, para que pudesse ser usado um campo menor, provavelmente inspirados pela abertura de um campo de tamanho reduzido, em 1914, na cidade de Portsmouth, Inglaterra - que, curiosamente, ganhou o apelido de "minigolfe". O primeiro campo de tamanho reduzido da Irlanda seria aberto no Condado de Cork, em 1929, mas as novas regras seriam vistas mais como uma curiosidade até a década de 1940, quando vários outros "minicampos" começariam a aparecer, e o novo esporte se espalharia por toda a Europa, com suas regras sendo refinadas. Esse novo esporte ganharia o apelido de pitch and putt, relacionado ao fato de que primeiro o jogador dava uma tacada longa (pitch) e depois várias tacadas curtas (putt), nome que acabaria pegando como o oficial do esporte.

Hoje, o pitch and putt é majoritariamente considerado um esporte diferente do golfe, embora use o mesmo equipamento, e alguns campos de pitch and putt fiquem no mesmo terreno de campos de golfe; há um grande grupo, entretanto, que inclui dirigentes e jogadores, que considera o pitch and putt uma variante do golfe, o que entrava seu desenvolvimento - muitos países não têm federações nacionais de pitch and putt, por exemplo, porque suas federações nacionais de golfe são fortes e barram sua criação, alegando que o pitch and putt é apenas um passatempo, não um esporte.

Essa briga, inclusive, faz com que o pitch and putt tenha duas federações internacionais: a primeira, a Federação Internacional das Associações de Pitch and Putt (FIPPA) seria fundada em 2006, como uma expansão da Associação Europeia de Pitch and Putt (EPPA), fundada em 1999 para congregar as federações nacionais de seis países europeus (Irlanda, Reino Unido, Espanha, Holanda, França e Itália; na fundação da FIPPA, também já faziam parte Noruega, Suíça e Andorra, e como fundadores da FIPPA estavam Estados Unidos, Austrália e Chile). Em 2009, insatisfeitos com a gerência da FIPPA, quatro membros (França, Itália, San Marino e Dinamarca) decidiram sair da entidade e fundar sua própria, a Associação Internacional de Pitch and Putt (IPPA). Hoje, a FIPPA conta com 11 membros plenos (incluindo Reino Unido, Catalunha e Galícia) e 3 membros associados (incluindo o País Basco), enquanto a IPPA conta com 10 membros (incluindo a Inglaterra), o Brasil não faz parte de nenhuma das duas, e a principal diferença é que a FIPPA considera o pitch and putt como um esporte separado, enquanto a IPPA o considera parte do golfe.

Seja como for, tanto FIPPA quanto IPPA consideram que são três as características que diferenciam o pitch and putt do golfe. Primeiro, no pitch and putt há uma distância máxima entre a tee area e o buraco, que, para a FIPPA, é de 70 metros, enquanto para a IPPA é de 90 metros. Segundo, há um comprimento total para o percurso que os jogadores fazem em uma partida, que, para a FIPPA, é de 1 km, enquanto para a IPPA é de 1200 m. Terceiro, cada jogador só tem direito a carregar consigo três tacos, sendo que um deles, obrigatoriamente, deve ser um putter - a maioria dos jogadores leva um putter e dois irons. Tirando isso, e alguns outros pequenos detalhes nas regras de cada federação que na verdade não alteram a mecânica do jogo, o pitch and putt é igual ao golfe, podendo ser disputado em stroke play, match play, simples masculinas ou femininas, duplas ou equipes masculinas, femininas ou mistas.

O principal torneio da FIPPA é a Copa do Mundo de Pitch and Putt, disputada somente por equipes mistas no estilo match play. As duas primeiras edições da Copa do Mundo ocorreram antes da fundação da FIPPA, e foram organizadas pela EPPA (que ainda existe, aliás), a primeira em 2004 na Itália (que cinco anos depois saiu e foi fundar a IPPA) e a segunda em 2006 na Catalunha; depois disso houve uma edição em 2008 na Holanda, e então o torneio passou a ser disputado a cada quatro anos, com a edição de 2012 sendo realizada na Irlanda e a de 2016 em Andorra. Por causa da pandemia, a edição de 2020, prevista para os Estados Unidos, foi cancelada, e não há previsão de quando ela será realizada nem onde. As duas primeiras edições da Copa do Mundo foram conquistadas pela Catalunha, que também tem uma prata e um bronze, e as três mais recentes pela Irlanda, que também tem um bronze; a Holanda tem duas pratas e um bronze, Andorra e Austrália têm uma prata cada, e França e Galícia têm um bronze cada.

Além da Copa do Mundo, a FIPPA organiza o Campeonato Mundial de Pitch and Putt, torneio de simples masculinas no estilo stroke play disputado a cada dois anos desde 2009; Catalunha e Irlanda mais uma vez são os dois países mais bem sucedidos. Campeonato Mundial de Pitch and Putt também é o nome do torneio principal da IPPA, que também é de simples masculinas no estilo stroke play, mas é disputado anualmente, desde 2012. A Espanha é o país mais bem sucedido no torneio da IPPA.

Pra terminar, vamos ver o golfe de praia, ou beach golf, esporte que vem ganhando popularidade na Europa, mas ainda não pegou no resto do mundo. O golfe de praia foi inventado em 1999, em Pescara, Itália, pelo jogador Mauro de Marco, que buscava criar uma versão do golfe que pudesse ser jogado na praia a qualquer momento, sem precisar fechar a praia; para isso, ele incluiu nas regras que tudo o que estiver na praia na hora do jogo conta como um obstáculo, incluindo guarda-sóis, cadeiras e até banhistas. Essas regras seriam refinadas ao longo dos anos, até a fundação, em 2004, da Beach Golf Sport Association (BGSA), que hoje atua como federação internacional do golfe de praia. Embora a BGSA goste de dizer que o golfe de praia é o único esporte no qual o público faz parte do campo de jogo, as regras atuais preveem uma delimitação do campo de jogo com faixas, para que a interferência de objetos externos não seja tão grande quanto no início.

O golfe de praia usa como campo um trecho de 2 km de praia em linha reta, que conta com 9 buracos. O taco usado é o wedge, e a bola é própria, feita de espuma de poliuretano, com 7 cm de diâmetro e peso máximo de 35 g, o que garante que ninguém vai se machucar caso seja atingido por ela; a bola também costuma ser rosa-choque, para ser facilmente encontrada durante o jogo. Cada teeing area conta com um pequeno tapete de grama sintética no qual está afixado um tee, para que o jogador dê sua primeira tacada; a partir de então, todas as tacadas são dadas com a bola na areia. O buraco é um copo enterrado na areia, demarcado por uma bandeirinha e por um semicírculo de 2 m de raio. Um equipamento próprio do golfe de praia é a cinta de proteção, uma faixa de material sintético de 5 m de comprimento segurada por três pessoas próximo ao jogador quando ele vai dar a tacada, para que os espectadores não interfiram - basicamente, é uma barreira para que ninguém ultrapasse aquele ponto, só que móvel.

O golfe de praia é sempre disputado em duplas, no estilo stroke play. O esporte é totalmente misto, com as duplas podendo ser formadas por dois homens, duas mulheres ou um homem e uma mulher. Pelas regras da BGSA, cada dupla deve ter um jogador de handicap alto e um de handicap baixo, normalmente um profissional e um amador, ou um jogador experiente e um iniciante; cada torneio também tem seu próprio handicap, com a soma dos handicaps dos parceiros de cada dupla jamais podendo ser maior que o do torneio. Para determinar a dupla vencedora de cada torneio, é usada uma fórmula, que leva em conta o número de tacadas, o número de bolas perdidas (porque, por exemplo, foram levadas pelo mar), o número de penalidades e o handicap da dupla, com a dupla de resultado final mais baixo sendo a campeã.

Atualmente, a BGSA conta com 18 membros, todos europeus, e todos os seus torneios foram realizados na Europa; jogadores de países que não são membros da BGSA podem participar de torneios mediante convites, normalmente reservados para jogadores profissionais de golfe ou celebridades - os torneios mais populares do golfe de praia, inclusive, são aqueles nos quais celebridades, como atores, cantores e atletas de outros esportes, fazem dupla com jogadores profissionais de golfe de praia. O principal torneio do golfe de praia é o Campeonato Europeu, disputado anualmente desde 2014, que atualmente conta com a participação de 90 duplas e dura sete dias. Além dos torneios em separado, como os que contam com celebridades, a BGSA costuma organizar tours, séries de três ou mais torneios nos quais os jogadores vão somando pontos, sendo o campeão aquele com mais pontos após o último. O BGSA Tour mais famoso é o da Itália, que dura 30 dias e visita várias praias do Mar Adriático.

Para tentar popularizar seu esporte no resto do planeta e conseguir mais membros, a BGSA criaria, já em 2005, uma espécie de secretaria chamada Way Entertainment, responsável pela organização de torneios não só do golfe de praia, mas de uma variante batizada de We Golf, disputada literalmente no meio da rua. As regras são as mesmas do golfe de praia, mas o número máximo de duplas é 40, e, em alguns torneios, as duplas representam países (por exemplo, "Portugal", ao invés de "Fulano/Beltrano"). Torneios de We Golf são mais raros que os de golfe de praia, por causa da logística, mas costumam atrair mais público.

Vale citar também que uma curiosa polêmica envolve o golfe de praia, e talvez dificulte sua expansão internacional: segundo as regras oficiais da BGSA, uma parte importantíssima do esporte são as caddy girls - uma mistura de árbitros, caddies, voluntários e anfitriãs do evento, com funções como animar o público, segurar a cinta de proteção, posicionar o tapete da teeing area, remover a bandeirinha do buraco quando a bola estiver próxima, carregar material para as duplas como bolas extras e toalhinhas, marcar os pontos de cada dupla, marcar faltas e penalidades cometidas por cada dupla, e somar os pontos para determinar o vencedor do torneio. Evidentemente, não é a mesma moça quem faz tudo isso, com cada torneio tendo por volta de 120 caddy girls. A polêmica fica por conta de que só são selecionadas para ser caddy girls moças jovens, bonitas e de corpo atraente, e, como o torneio é na praia, normalmente elas usam biquínis e shorts minúsculos, quando muito uma camiseta. A presença das caddy girls faz com que muitas pessoas não considerem o golfe de praia como um esporte sério, achando que é alguma forma de puro entretenimento, como uma gincana de televisão; mesmo assim, a BGSA não abre mão de sua presença, nem faz qualquer esforço para, digamos, tornar a função mais inclusiva.
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domingo, 6 de dezembro de 2020

Escrito por em 6.12.20 com 0 comentários

Frescobol / Tamburello

Hoje, mais uma vez, vou abordar dois esportes sobre os quais quero falar faz tempo, e que talvez tenham pouco em comum, mas que me agradam mais em um mesmo post do que em dois posts curtos separados.

Assim como da última vez, vamos começar por um esporte inventado no Brasil, o frescobol. Ou quase, já que, nesse caso, há uma certa controvérsia. Eu penso em falar sobre frescobol aqui no átomo desde pelo menos 2013, e, da última vez, desisti porque, ao pesquisar sobre ele, descobri que existem dezenas de esportes parecidos, alguns até mais antigos do que ele, e eu não estava com vontade de falar sobre todos. Hoje, decidi que, se não estou com vontade, não vou falar, simples assim; vou me concentrar no frescobol.


Segundo a versão oficial, o frescobol foi inventado em 1945, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, por Lian Pontes de Carvalho, que nasceu no Pará e era dono de uma fábrica de móveis de piscina, pranchas e esquadrias de madeira. Lian costumava se encontrar com os amigos na praia para jogar tênis - o comum, não o tênis de praia - mas tinha um problema inusitado: por causa da maresia, suas raquetes se estragavam com frequência, e em pouco tempo já não serviam mais para jogar. Um dia, ele decidiu fabricar raquetes de madeira, que teriam maior durabilidade. O plano de Lian tinha uma falha que não foi prevista, porém: a bola se comportava de maneira totalmente diferente quando atingida pelas raquetes de madeira, em relação à forma como se comportava ao ser atingida pelas raquetes de tênis tradicionais. Já que não podia jogar tênis com elas, Lian e seus amigos decidiram criar um novo esporte, no qual o intuito não é colocar a bola fora do alcance do adversário, e sim passar o maior tempo possível sem deixar ela cair.

Isso mesmo, muita gente não sabe, mas o frescobol é um esporte cooperativo: os dois jogadores não são adversários, mas parceiros, tendo como objetivo passar a bola de um para o outro sem deixá-la cair no chão. De acordo com as regras oficiais, a distância entre os jogadores deve ser de 8 m, e cada dupla tem direito a 5 minutos de jogo, sendo que o cronômetro para toda vez que a bola cai no chão, sendo reiniciado quando o jogador que a recolheu bate nela com a raquete. Ao final dos 5 minutos, a dupla receberá uma pontuação de acordo com o número de sequências que realizou, sendo que, cada vez que a bola é recolhida do chão, se inicia uma nova sequência - como o objetivo é evitar que a bola caia, quanto menos sequências, mais pontos: uma dupla que encerre os 5 minutos sem deixar a bola cair nenhuma vez, ou seja, com uma única sequência, ganha 150 pontos; cada sequência a mais representa nove pontos a menos (141 pontos por duas sequências, 132 por três, e assim por diante), até 17 sequências, que valem 6 pontos, e, a partir daí, 18 sequências valem 2 pontos, 19 valem 1, e, com 20 ou mais sequências, a dupla termina com 0 pontos - embora ainda possa ganhar pontos de bônus normalmente.

Cada jogador só pode dar um toque na bola antes de passá-la para seu adversário, e a dupla ganha pontos de bônus se, ao devolver a bola, o jogador o faça com um "ataque", caracterizado pelo fato de que a bola saiu da raquete com mais velocidade do que entrou. Cada ataque vale 1 ponto de bônus, sendo que, se o ataque for feito "de mão trocada", ou seja, com a raquete na mão do jogador que não é a dominante, ele será considerado um ataque não-preferencial (também chamado de revés ou destreza revés), e valerá 3 pontos de bônus a mais (ou seja, 4 no total), e, se o ataque for feito enquanto a bola estava acima da linha dos ombros do jogador, será considerado como um ataque alto (ou destreza alta), e valerá 2 pontos a mais (3 no total); um ataque feito com a mão dominante do jogador se chama ataque preferencial, e vale apenas 1 ponto mesmo. Embora não haja um número máximo de ataques que uma dupla pode realizar, há um máximo para os pontos de bônus que ela pode ganhar: apenas os 290 primeiros ataques pontuam, sendo que apenas os 12 primeiros ataques não-preferenciais e apenas os 7 primeiros ataques altos valem pontos extras; a partir desses números-limite, eles passam a ser considerados ataques preferenciais, valendo apenas 1 ponto cada. Para que os pontos de bônus sejam computados, a bola deve tocar na raquete do parceiro após o ataque, não podendo ir direto para o chão; é permitido pelas regras que um dos jogadores "prepare" a bola para o outro, colocando-a de propósito em posição fácil de ser atacada de revés ou com um ataque alto.

Além de pontos de bônus pelos ataques, os jogadores ganham pontos de bônus por equilíbrio e intensidade. O equilíbrio avalia se ambos os jogadores atacaram e defenderam na mesma medida, e existe para evitar que apenas um dos jogadores ataque, enquanto o outro apenas prepara. Segundo as regras, a diferença entre o número de ataques dos dois jogadores deve ser igual ou maior que 30% - ou seja, se um jogador efetuou 100 ataques, o outro tem que ter efetuado 30 ou mais. Caso a diferença seja menor que 30%, a dupla ganhará apenas 1 ponto de bônus, mas, caso seja igual ou maior que 30%, ganhará uma pontuação determinada pelo número de ataques realizados pela dupla, somando os ataques de ambos os jogadores: uma dupla que realize menos de 100 ataques ganha 50 pontos de bônus, e uma que realize 145 ou mais ganha 100 pontos de bônus, com pontos proporcionais sendo conferidos às que realizaram entre 100 e 145.

A bonificação por intensidade também leva em conta o número de ataques de cada dupla, mesmo que ela não tenha cumprido a regra dos 30%: uma dupla que realize entre 220 e 225 ataques ganha 35 pontos de bônus, enquanto uma que realize entre 285 e 290 ataques ganha 100 pontos de bônus, com pontos proporcionais conferidos por realizar entre 225 e 285 ataques. A bonificação por intensidade, como o nome sugere, busca fazer com que o jogo fique mais intenso, com muitos ataques, sem que os jogadores fiquem apenas passando a bola de um para o outro. Com esses pontos de bônus todos, a pontuação máxima que uma dupla pode fazer é de 740 pontos: 150 pela sequência, 290 pelos ataques, 72 pelos ataques não-preferenciais, 28 pelos ataques altos, 100 pelo equilíbrio e 100 pela intensidade.  

As primeiras competições oficiais de frescobol só surgiriam no Brasil na década de 1980, e, mesmo assim, eram regionais e espalhadas pelo litoral, sem intercâmbio de jogadores - ou seja, cada jogador só participava dos torneios de sua própria cidade. O primeiro Campeonato Brasileiro de Frescobol, que contaria com a participação de jogadores de nove estados diferentes, seria realizado apenas em 1994; a atual competição mais importante do frescobol brasileiro é o Circuito Brasileiro de Frescobol, disputado anualmente desde 2013, que conta com várias etapas em diferentes estados do Brasil, cada uma valendo pontos para as duplas de acordo com suas classificações finais, com a dupla com o maior número de pontos após a última etapa (sempre realizada em Copacabana) sendo declarada a campeã daquele ano.

O frescobol não possui uma federação internacional; no momento, quem faz esse papel é a Confederação Brasileira de Frescobol (CBraF), fundada em 2015 e atual responsável pelo Circuito Brasileiro. A CBraF não é a única entidade a regular o frescobol no Brasil, com duas outras também organizando torneios a nível nacional, ambas chamadas Associação Brasileira de Frescobol, com a mais antiga, fundada em 2003, usando a sigla ABF, e a mais recente, fundada em 2012, usando a sigla ABRAF. A principal competição do frescobol mundial é o Campenato Mundial de Frescobol, realizado pela primeira vez em 2015, pela ABRAF, em Playa del Carmen, México, e então em 2017, pela CBraF, em Macaé, no Rio de Janeiro, ambas com a participação de duplas de 20 países, mas duplas brasileiras sendo campeãs em todas as modalidades; uma terceira edição estava prevista para 2020 na Espanha, mas foi cancelada devido à pandemia global.

O frescobol, porém, é muito mais praticado na praia como passatempo do que em torneios como esporte competitivo. Além da modalidade de duplas jogada profissionalmente (em duplas masculinas, duplas femininas ou duplas mistas), o frescobol pode ser disputado na modalidade estilo livre, na qual ganha a dupla que conseguir dar mais toques contínuos na bola antes de ela cair no chão; na modalidade contra o relógio, na qual ganha a dupla que realizar mais toques na bola durante um determinado período de tempo, sendo que o relógio não para quando a bola cai no chão; e na modalidade trincas, disputada por três jogadores que se alternam passando a bola um para o outro.

Faltou falar sobre o equipamento: a raquete originalmente era uma peça de madeira inteira e sólida, mas hoje, além de madeira, também utiliza materiais como fibra de vidro, carbono e aramida, além de uma proteção de borracha no cabo para maior firmeza na pegada. A raquete pode ser oca ou maciça, e deve ter no máximo 50 cm de comprimento por 25 cm de largura, sendo o tamanho "padrão" o de 45 cm de comprimento por 21 cm de largura; o peso fica entre 300 e 400 g. Originalmente, eram usadas bolas de tênis descascadas, mas, a partir da década de 1980, começaram a ser usadas bolas de raquetebol, que hoje podem ser encontradas no comércio vendidas como bolas de frescobol; a bola é feita de borracha, é oca e pressurizada, tendo 5,7 cm de diâmetro e pesando em torno de 40 g. Tanto as raquetes quanto a bola podem ser de qualquer cor, à escolha dos jogadores. Em torneios oficiais, o uniforme consiste de uma camiseta branca com a identificação do jogador (nome ou número), mais uma sunga para os homens e um biquíni ou maiô para as mulheres, que podem ser de qualquer cor; é obrigatório jogar descalço, e o uso de boné, viseira ou óculos escuros é opcional.

Pois bem, o motivo pelo qual há uma certa controvérsia quanto ao fato de o frescobol ter sido inventado no Brasil é o fato de que, como já foi dito, existem dezenas de esportes muito parecidos com ele - os jogadores estrangeiros que participaram do Mundial de Frescobol, aliás, eram jogadores desses outros esportes, e não de frescobol. Dois desses esportes, o italiano racchettoni e o israelense matkot, são comprovadamente mais antigos que o frescobol, com o matkot sendo o mais antigo de todos: há registros de que o matkot já era jogado no então Mandato Britânico da Palestina na década de 1920, e fotografias que mostram banhistas jogando matkot em Tel Aviv em 1932. O matkot seria levado por imigrantes para os Estados Unidos, onde se tornaria popular após a Segunda Guerra Mundial, e Europa, onde daria origem a vários outros esportes, e, hoje, é considerado o esporte nacional de Israel - país no qual se considera que o frescobol também é um derivado dele. O nome matkot vem da palavra matka, "raquete" em hebraico, e, há até bem pouco tempo, era usado em inglês para chamar também o frescobol - com o nome frescoball tendo surgido apenas recentemente. Assim como o frescobol, o matkot não possui uma federação internacional, sendo regulado internacionalmente pela Federação Israelense, e seu principal campeonato é o Campeonato Israelense, que conta com a participação de jogadores de outros países, mas é dominado pelas duplas israelenses. O matkot é jogado como o frescobol estilo livre, sendo campeã a dupla que conseguir o maior número de toques seguidos na bola; suas raquetes se parecem com raquetes de tênis de mesa gigantes, com cabos curtos e cabeças quase redondas, de 30 cm de largura, e possuem uma camada de plástico do lado que acerta a bola, que é a mesma do squash.

Vamos agora passar para o segundo e último esporte de hoje, o tamburello, que eu descobri quando escrevia o post sobre pallapugno, e, desde então, penso em falar também sobre ele. Diferentemente do pallapugno, que é um jogo de pelota, o tamburello é um parente do tênis, mas muito mais antigo: segundo algumas fontes, o tamburello já seria jogado no Império Romano, e os soldados de Júlio César, ao invadir a Gália, teriam montado quadras de tamburello para se divertir, o que acabaria ensinando o esporte também aos franceses. Lenda ou não, Itália e França são hoje as duas maiores potências do tamburello, que também é levemente popular em outros países da Europa, mas praticamente desconhecido no restante do planeta.


Tamburello, em italiano, significa "tamborim", aquele instrumento musical, e o esporte ganhou esse nome por causa do objeto que os jogadores usam para rebater a bola, que se parece com um tamborim ou pandeiro. Também chamado tamburello, originalmente ele era feito de madeira com uma superfície de couro de cavalo esticado e uma alça de tecido natural; hoje, a armação é feita de fibra de carbono ou polímeros sintéticos, a superfície é feita de borracha ou lona, e a alça é feita de tecidos sintéticos que não machuquem a pele dos jogadores. Ao contrário do que se imagina, os jogadores não seguram o tamburello pela alça, ela serve para passar pelo punho e impedir que ele caia ou voe longe durante o jogo; os jogadores devem segurar no próprio tamburelo, sendo a pegada tradicional obtida com o polegar na parte de cima, sobre a lona, e os outros quatro dedos por baixo, segurando a armação. Um tamburello profissional possui entre 26 e 28 cm de diâmetro, e faz um barulho bastante característico quando acerta a bola.

Não há registros de que materiais eram usados para fazer a bola na época do Império Romano, mas, no século XVI, quando uma verdadeira febre do tamburello tomou conta do noroeste da Itália, principalmente da cidade de Turim - que ganhou um bairro chamado Balon, em homenagem ao jogo - as bolas eram feitas de couro, recheadas, acreditem ou não, com cabelos de mulher, que, segundo os jogadores, era o material que fazia com que elas quicassem melhor. Hoje, a bola é feita de borracha, sendo oca e inflada; a bola usada no profissional tem 6 cm de diâmetro, enquanto a usada no amador tem 8 cm de diâmetro, mas ambas pesam 88 g, o que significa que a bola do amador possui menos borracha e pressão menor, sendo mais lenta e mais fácil de controlar. Um detalhe interessante é que os jogadores podem acertar a bola não somente com a superfície do tamburello, mas também com o antebraço, até a dobra do cotovelo; acertá-la com qualquer outra parte do corpo resulta em ponto para o adversário.

O tamburello é jogado em uma área própria, conhecida em italiano como sferisterio. Se alguém reconheceu o nome, é porque esse é o mesmo campo usado para o pallapugno e para o pallone col bracciale, esporte antigo que, segundo alguns, deu origem tanto ao pallapugno quanto ao tamburello, e sobre o qual eu falei no post sobre pallapugno. O sferisterio tem superfície de terra batida, sendo que, no profissional, é usado saibro, mesmo material das quadras de tênis. Para o tamburello tradicional, o sferisterio deve ter 80 m de comprimento por 20 m de largura, sendo dividido no meio por uma linha chamada corda, embora não haja nenhuma corda ou rede, apenas a linha. A 3 m da corda, em cada uma das metades, há uma linha de falta; nenhum jogador pode acertar a bola "direto", sem deixar ela quicar no chão antes, quando estiver no espaço entre as duas linhas de falta, ou será ponto para o adversário. Finalmente, a 5 m de cada linha de fundo há a linha de saque, com o jogador devendo se posicionar entre a linha de fundo e a linha de saque para sacar. Como não há rede dividindo a quadra, os jogadores precisam tomar muito cuidado para não se empolgarem e invadirem o lado oponente; passar para o lado adversário da quadra, mesmo que pelo lado de fora, resulta em interrupção da jogada e ponto para o oponente, não importando onde estava a bola.

A pontuação no tamburello é contada de forma semelhante a no tênis, com as equipes fazendo 15, 30, 40 e então gioco, mas sem deuce, ou seja, se estiver 40 a 40, a próxima a pontuar leva o gioco. Originalmente, o jogo era disputado até que uma das equipes marcasse 13 giochi (mesmo que estivesse 12 a 12), mas, desde 2000, um novo sistema de disputa se tornou mais popular, e quase todos os torneios o tem utilizado: são disputados dois sets, sendo que ganha o set a equipe que primeiro marcar 6 giochi (mesmo que esteja 5 a 5); se uma mesma equipe ganhar ambos os sets, vence o jogo, mas, se cada uma ganhar um, é disputado um tie break, no qual a pontuação, ao invés de 15, 30, 40, é contada 1, 2, 3, sendo vencedor quem primeiro alcançar 8 pontos, com dois pontos de vantagem sobre o oponente (ou seja, se estiver 7 a 7, quem primeiro fizer 9, e assim por diante). Esse novo sistema de disputa se tornou mais popular porque, além de permitir aos jogadores um descanso entre os sets, ainda torna o jogo mais rápido do que o sistema tradicional de 13 giochi, com o qual uma partida levava em média sete horas para terminar - atualmente, leva entre 3 e 4 horas.

Eu usei "equipes" no parágrafo anterior porque o tamburello não é um esporte individual, sendo disputado por equipes de cinco jogadores cada, mais quatro reservas, sendo que as substituições podem ser feitas entre um gioco e outro. Os jogadores não ficam correndo pra lá e pra cá na quadra, se posicionando de forma que cada um fique responsável por um setor; não é permitido aos jogadores trocar bolas como no vôlei, devendo cada jogador, ao bater na bola, devolvê-la para a quadra adversária. Também diferentemente do que ocorre no vôlei, no tamburello os jogadores não "rodam", ocupando sempre as mesmas posições na quadra do início ao fim do jogo, embora se alternem no saque seguindo uma ordem pré-determinada. Torneios profissionais podem contar com um jogador chamado battuta, que conta para o limite de nove do time mas nunca joga propriamente, só entrando em quadra para sacar e então retornando ao banco antes que a bola seja devolvida pelo adversário; o battuta usa um tamburello especial, que tem um cabo bem comprido e se parece com um banjo, que permite que a bola viaje mais longe.

Também é importante registrar que, no sistema tradicional de 13 giochi, as equipes mudam de lado na quadra a cada três giochi, e, no sistema de dois sets, a cada dois giochi; assim como no vôlei, começa sacando no gioco seguinte a equipe que pontuou no gioco atual. Para uma partida de tamburello só é obrigatório um arbitro, que pode se sentar em uma cadeira alta como no tênis ou caminhar ao lado da linha lateral da quadra; torneios profissionais usam um árbitro sentado e um segundo árbitro em pé, em lados opostos, além de vários auxiliares para ver se a bola quicou dentro ou fora da quadra ou se os jogadores cometeram faltas. Finalmente, vale citar como curiosidade que, além de os árbitros terem cartões amarelos e vermelhos para mostrar aos jogadores quando estes têm conduta antidesportiva - um cartão amarelo resulta em um ponto para o adversário, um cartão vermelho significa que o jogador deve ser substituído e não pode mais jogar naquela partida, sendo que o segundo amarelo para um mesmo jogador vem sempre acompanhado de um vermelho - os técnicos de cada time também possuem cartões que podem mostrar ao árbitro, nas cores verde e azul: o cartão azul é usado para indicar que o time quer fazer uma substituição ao final daquele gioco, enquanto o verde é um pedido de tempo. A duração de cada pedido de tempo fica a cargo de cada técnico, mas cada time tem apenas 3 minutos de tempo técnico por jogo - ou seja, pode pedir 3 tempos de 1 minuto cada, 6 tempos de 30 segundos cada, ou qualquer outra combinação que não ultrapasse 3 minutos.

Além de ser um esporte muito antigo, o tamburello também foi regulado muito cedo: o primeiro campeonato italiano de tamburello foi disputado no mesmo ano em que a primeira Olimpíada, 1896; em 1920 seria fundada a Federazione Italiana Palla Tamburello; e, em 1930, seria realizado o primeiro campeonato profissional. Internacionalmente, ele é regulado pela Federação Internacional de Tamburello, fundada em 1987 pela união das federações italiana e francesa, e que hoje conta com 20 membros, sendo 17 europeus e mais Cuba, Japão e o Brasil, representado pela Federação Paulista de Tamburéu. Curiosamente, a Federação Internacional de Tamburello é conhecida internacionalmente pela sigla de seu nome em francês, FIBT, e não pela do italiano (FIPT). O principal campeonato da FIBT não é de seleções, mas de clubes, a Coppa Europa, disputada anualmente desde 1996 no masculino e 2001 no feminino; dentre as seleções, o torneio mais importante é o Campeonato Mundial de Tamburello, disputado a cada quatro anos, no masculino e no feminino, desde 2012 - o Brasil foi medalha de bronze no masculino na primeira edição.

Além do tamburello tradicional, com cinco de cada lado, a FIBT também regula outras cinco variedades do tamburello. Atualmente, a mais popular de todas, com mais praticantes até do que o tradicional, se chama tamburello a tre, pelo fato de que há apenas três jogadores de cada lado. O tamburello a 3 não é disputado no sferisterio, e sim em uma quadra coberta, e, por isso, também é conhecido internacionalmente como tamburello indoor; foi inventado em 1934 por jogadores de tamburello que queriam continuar jogando durante o inverno, e teve seu primeiro campeonato profissional disputado em 1987 - hoje, o campeonato italiano de tamburello a 3 possui média de público e audiência maior que o do tradicional, e muitas escolas já contam com o tamburello a 3 em suas aulas de educação física. No âmbito da FIBT, o principal campeonato também é a Coppa Europa de clubes, disputada no masculino e no feminino desde 1993, ou seja, desde antes da Coppa do tamburello tradicional; para as seleções, o principal é o Campeonato Mundial de Tamburello a 3, disputado no masculino e no feminino a cada três anos desde 2013 - o Brasil também foi medalha de bronze no masculino na primeira edição.

O tamburello a 3 é disputado em uma quadra coberta de 34 m de comprimento por 16 m de largura; para dividi-la ao meio, há uma peça de madeira de 5 cm de altura, que se prolonga 5 cm de cada lado para fora da quadra, que serve para facilitar a vida do árbitro quanto a se invasões ocorreram ou não, já que, com a quadra menor, o jogo é muito mais veloz - caso a bola bata na madeira, é ponto para o adversário. As linhas de falta e de saque são nas mesmas posições, a 3 m da madeira e a 5 m da linha de fundo, respectivamente. Cada time é composto por 8 jogadores, sendo três em quadra e cinco reservas, não sendo permitido battuta. A bola do tamburello tradicional seria muito veloz e perigosa, então, em jogos profissionais, são usadas bolas de borracha sólida, com 6,7 cm de diâmetro e que pesam 40 g; em jogos amadores e nas escolas, são usadas bolas de tênis. As demais regras são idênticas às do tamburello tradicional, com a diferença de que o tamburello e 3 é sempre jogado no sistema de que ganha quem fizer 13 giochi primeiro, com a curiosidade de que, se o jogo estiver 12 a 12, termina empatado - exceto se for um jogo eliminatório, quando é necessário abrir uma vantagem de dois giochi para vencer o jogo.

Até a década de 1980, o tamburello tradicional era o mais popular, e o segundo mais popular era o tamburello a muro, que, segundo as histórias, surgiu na Idade Média, quando os jogadores do Vale d'Aosta, da Lombardia e do Vêneto jogavam tamburello ao lado dos inúmeros castelos que existiam no local, usando o muro do castelo como parte da área de jogo. Também conhecido como tambass, nome pelo qual é chamado na região do Piemonte, o tamburello a muro era bastante popular em cidades do interior, até que, em 1976, um grupo de jogadores da cidade de Monferratto decidiu regulá-lo, e os primeiros campeonatos profissionais, contando com a presença de jogadores de tamburello tradicional, começaram a surgir. O campeonato italiano é disputado desde 2002; a FIBT ainda não organiza competições internacionais. As regras do tamburello a muro são as mesmas do tamburello tradicional, exceto pela presença do muro, que ocupa somente um lado do sferisterio, e tem no mínimo 5 m de altura. Cada equipe saca sempre com o muro à sua direita, e, por isso, cada equipe saca em três giochi seguidos antes de mudar de lado, independentemente de quem pontuou nesses três giochi. Exceto após um saque, é permitido que a bola quique uma vez no muro antes de quicar na quadra adversária, o que adiciona imprevisibilidade ao jogo. Uma partida de tamburello a muro dura até que uma das equipes marque 19 giochi, terminando empatada caso esteja 18 a 18 - e com cada torneio tendo regras próprias para definir o desempate caso seja um jogo eliminatório.

A modalidade do tamburello que mais cresce no mundo hoje é o tambeach, o "tamburello de praia". Criado por jogadores de tamburello da cidade de Cava d'Aliga em 1975, ele rapidamente se popularizou como um passatempo, e não demorou para surgirem os jogadores profissionais; o campeonato italiano de tambeach é disputado desde 1996. O tambeach pode ser disputado em simples ou duplas, sendo que a área de jogo tem sempre 24 m de comprimento, mas larguras diferentes dependendo do evento: 8 m para as simples masculinas, 7 m para as simples femininas, e 12 m para as duplas. A quadra é dividida por uma rede, semelhante à do vôlei de praia, com entre 2,05 e 2,15 m de altura, presa a postes que devem ficar a no mínimo 50 cm das linhas laterais. Não há linhas de falta ou de saque, e as linhas que delimitam a quadra devem ser claramente visíveis e ter entre 5 e 8 cm de largura. O tambeach é disputado em melhor de três ou de cinco sets, sendo que um jogador ou dupla ganha um set quando faz 12 giochi, sempre com dois giochi de vantagem (ou seja, se estiver 11 a 11, ganha quem fizer 13). São usadas bolas de tênis, que devem sempre ser rebatidas "direto"; caso a bola toque o chão, é ponto para o oponente. Assim como no tamburello tradicional, saca quem pontuou, e a cada três giochi os jogadores mudam de lado; no jogo de duplas mistas, o jogador homem deve sempre sacar na direção do adversário homem, e a mulher sempre na direção da mulher, ou será falta. O principal torneio da FIBT é a Copa Intercontinental, disputada anualmente desde 2010.

A modalidade mais recente do tamburello é o tambutennis, que surgiu no início dos anos 2000. Assim como o tambeach, ele é disputado em simples ou duplas, mas em uma quadra de 20 m de comprimento por 10 m de largura, com uma rede semelhante à do tênis, de 60 cm de altura, no meio, sem linhas de falta ou de saque. O tambutennis usa bolas de tênis, e é disputado em melhor de três ou cinco sets, sendo que ganha um set quem fizer 10 giochi, com vantagem de dois sobre o oponente. A FIBT ainda não organiza campeonatos internacionais de tambutennis.

Finalmente, temos o tambumuro, a "versão squash" do tamburello, jogado somente em simples, em uma quadra que tem 10,6 m de comprimento por 6,1 m de largura e um muro de 4,9 m de altura em uma das extremidades. Ambos os jogadores ficam de frente com o muro e se alternam na hora de rebater a bola, que pode quicar uma vez no chão antes de ser rebatida; cada jogador saca três vezes seguidas, então passa o saque para o adversário. Os pontos não são contados 15, 30, 40, mas direto, 1, 2, 3; o jogo é disputado em dois sets, ganhando cada set quem primeiro fizer 11 pontos (mesmo que esteja 10 a 10). Se cada um dos jogadores ganhar um set, são somados os pontos de ambos os sets, e quem fez mais vence; se essa soma der empate, é disputado um terceiro set, cujo vencedor será aquele que fizer 5 pontos primeiro, com 2 de vantagem sobre o oponente. Originalmente, a bola usada era a mesma do tamburello tradicional, mas, desde 1991, é usada a mesma bola do tamburello a 3. Segundo registros, o tambumuro é disputado desde o século XIX, e começou como uma série de desafios entre jogadores de tamburello; o campeonato profissional italiano é disputado desde 1991, e o principal torneio da FIBT é a Liga Tambumuro.

Para terminar, vale citar que ainda existem, na Itália, duas outras variações do tamburello que não são reconhecidas pela FIBT nem disputadas no âmbito profissional. A primeira é a palloncina, disputada em um sferisterio de 60 m de comprimento por 14,5 m de largura com uma rede de 50 cm de altura no meio e um muro de 4 m de altura do lado direito, por times de cinco jogadores cada usando uma bola de borracha inflada com 6,6 cm de diâmetro e 60 g de peso. Bizarramente, a palloncina é disputada em dois sets, sendo que o primeiro usa as regras do tamburello tradicional, e o segundo usa as regras do tamburello a muro. Se cada equipe ganhar um set, termina empatado.

A segunda é a pelota italiana, que ganhou esse nome por ser parecida com a pelota valenciana - com a óbvia diferença de que os jogadores batem na bola com o tamburello, e não com a mão. A pelota italiana é disputada em duplas, em um sferisterio de 54 m de comprimento por 10 m de largura, com um muro de no mínimo 5 m de altura do lado direito; ao sacar, a bola, que é feita de borracha inflada, com 6,6 cm de diâmetro e entre 70 e 77 g de peso, deve obrigatoriamente bater no muro e depois em uma área própria demarcada na quadra por um quadrado de 50 cm de lado. A pontuação é contada direto, 1, 2, 3, e ganha a dupla que fizer 41 pontos primeiro, mesmo que esteja 40 a 40; cada dupla faz três saques antes de trocar de lado. Recentemente, surgiu uma versão chamada minipelota, jogada com as mesmas regras, mas usando uma bola de tênis, tendo uma rede de 1,2 m de altura dividindo a quadra, e sendo vencedora a dupla que primeiro fizer 21 pontos. A pelota italiana vem ganhando muita popularidade no sul da Itália, especialmente na Calábria, e já há uma campanha para que ela entre para o rol dos esportes regulados pela FIBT.
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domingo, 15 de novembro de 2020

Escrito por em 15.11.20 com 0 comentários

Futevôlei / Polocrosse

Hoje vou abordar dois esportes sobre os quais quero falar faz tempo. Como, sozinhos, ambos dariam posts curtos (e quem me conhece sabe que eu não sou muito fã de posts curtos), decidi juntar os dois, mesmo eles não tendo muito a ver um com o outro - além do fato de que cada um deles é a combinação de dois outros esportes diferentes.

Vamos começar pelo futevôlei, que, por um acaso, foi inventado no Brasil. O ano era 1962, e uma lei da época proibia a prática do futebol nas praias, mas não a do vôlei, que contava, inclusive, com quadras próprias, na faixa de areia mais próxima ao calçadão, para sua prática. Um dia, na praia de Copacabana, um grupo de amigos, liderado por Octávio de Moraes, conhecido como Tatá, jogador de futebol do time do Botafogo, decidiria esperar os jogadores de vôlei encerrarem sua partida e usar sua quadra para criar um novo esporte, que misturasse características do futebol e do vôlei, e, assim, não contrariasse a proibição. Tatá planejava chamar o novo esporte de "pévôlei", mas o nome não pegou, e logo foi alterado para futevôlei, que, naturalmente, é a mistura dos nomes futebol e vôlei.

Em 1965, o futevôlei, que, originalmente, assim como o vôlei, era jogado com seis de cada lado, chamaria a atenção de jogadores famosos de futebol, inclusive da seleção brasileira, como Jairzinho e Fontana. Ele começaria a ser disputado também em Ipanema, criando uma rivalidade entre os times de lá e os de Copacabana. Em 1967, uma partida seria filmada por Carlinhos Niemeyer, responsável pelo documentário esportivo Canal 100, que era exibido antes dos filmes nas salas de cinema do Rio de Janeiro, o que contribuiria ainda mais para a proliferação do futevôlei nas praias cariocas. No ano seguinte, 1968, já disputado em praticamente toda a orla, o futevôlei sofreria importantes modificações nas regras, que o deixariam mais parecido com o jogo que temos hoje; essas modificações seriam motivadas por reclamações dos jogadores, como por exemplo a de que, com seis de cada lado, a bola demorava muito a cair e o jogo ficava muito longo, o que fez com que o jogo passasse a ser disputado em duplas (ou em "umplas", termo criado pelo jogador Feitosa, com apenas um jogador de cada lado). Uma das principais modificações nas regras foi que, originalmente, o saque era feito com as mãos, mas, a partir de 1968, passou a também ser feito com os pés.

O futevôlei alcançaria o auge de sua popularidade no final da década de 1980, quando superastros do futebol carioca, como Renato Gaúcho, Edmundo e Romário, atrairiam multidões para suas partidas, que sempre eram temas de matérias nos principais programas esportivos da TV. Essa popularidade levaria, na década de 1990, não só à fundação das primeiras organizações devotadas a regular, promover e organizar campeonatos de futevôlei, o que culminaria na fundação da Confederação Brasileira de Futevôlei (CBFv), em 1998, mas também à difusão do futevôlei pelo mundo, levado por atletas brasileiros que iam jogar no exterior ou por estrangeiros que vinham visitar o Brasil e o ficavam conhecendo. Em 2002, sob a liderança da CBFv, seria fundada a Federação Internacional de Futevôlei (FIFV), que hoje já conta com 40 membros dos cinco continentes.

O primeiro Campeonato Mundial de futevôlei seria disputado em 2003, com a participação de 18 duplas de 14 países diferentes; atualmente, porém, não é disputado um Mundial com sede única, e sim um Circuito Mundial de Futevôlei, que conta com várias etapas ao redor do mundo, valendo pontos para as duplas, com a dupla com o maior número de pontos na última etapa sendo a campeã. O Circuito Mundial é disputado anualmente no masculino desde 2007 e no feminino desde 2010; o Brasil ganhou todos os títulos exceto dois do masculino, conquistados por duplas paraguaias. Falando nisso, o futevôlei é disputado também no feminino, com as mesmas regras do masculino (mas contando com menos uso do peito e mais dos ombros e da cabeça); o futevôlei feminino surgiria nas praias cariocas na década de 1980, e o primeiro campeonato brasileiro feminino seria realizado em 2006. Além da versão em duplas, o futevôlei tem uma versão com as mesmas regras jogada com quatro jogadores de cada lado, conhecida como 4x4; o Mundial masculino de 4x4 teve três edições, entre 2011 e 2013, a primeira vencida pelo Paraguai, as outras duas pelo Brasil.

O futevôlei é disputado em uma quadra de areia, que pode ser "natural" (localizada em uma praia) ou "artificial" (construída depositando areia, com um mínimo de 30 cm de profundidade, em um estádio ou ginásio). A quadra deve ter 18 m de comprimento por 9 m de largura (o tamanho das quadras de vôlei presentes nas praias do Rio de Janeiro quando o esporte foi inventado), devendo ter uma área de segurança de pelo menos 3 m ao seu redor, que não pode contar com nenhum elemento, exceto a cadeira do árbitro e os postes da rede. As únicas marcações da quadra são as linhas de lado e de fundo, que devem ter entre 5 e 8 cm de largura, e ser de cor que contraste com a areia. A quadra é dividida no meio por uma rede de 9,5 m de comprimento por 1 m de largura, posicionada a 2,20 m de altura no masculino, ou a 2 m de altura no feminino e no 4x4. A rede é amarrada a dois postes de 2,55 m de altura, que devem ficar entre 50 cm e 1 m das laterais da quadra. Os postes devem contar com revestimento acolchoado para que os atletas não se machuquem caso se choquem contra eles acidentalmente.

As regras do futevôlei são as mesmas do vôlei de praia, com a diferença de que não é permitido tocar na bola com os braços, antebraços ou mãos, devendo ser usadas as partes do corpo que são permitidas no futebol: pés, pernas, coxas, joelhos, peito, ombros e cabeça. Com isso, a dinâmica da partida se torna bem diferente, já que a ênfase é em jogadas técnicas para colocar a bola nos espaços vazios da quadra oponente, e não em ataques de força - não há cortadas e bloqueios, por exemplo, com as duas jogadas mais agressivas de ataque sendo a bicicleta e o shark attack, com o qual o jogador bate na bola com a sola do pé, de cima para baixo. Como foi dito, o saque também é feito com o pé, com o jogador fazendo um montinho de areia para apoiar a bola antes de chutá-la para o lado do adversário. Assim como no vôlei, cada jogador só pode dar um toque na bola, então um jogador que mate a bola no peito não pode chutá-la em seguida, devendo fazer um "passe de peito".

O uniforme também é o mesmo do vôlei de praia: camiseta e bermuda para os homens, top e short para as mulheres. Já a bola é a mesma do futebol, mas mais leve e macia, com entre 68 e 70 cm de circunferência, entre 410 e 440 g de peso, e pressão interna entre 0,56 e 0,63 kg/cm2. Uma partida de futevôlei é disputada em melhor de três sets, ou seja, vence a dupla que primeiro ganhar dois. Dependendo do torneio, os sets podem ser de 15 ou de 21 pontos, sendo que a dupla vencedora tem que obter dois pontos de vantagem - se o set for de 15 pontos e estiver 14 a 14, ganha quem fizer 16, por exemplo.

O segundo esporte que veremos hoje é o polocrosse, que tem esse nome por ser uma mistura de polo e lacrosse - mas, ao contrário do que possa parecer, não surgiu quando alguém pensou "vou misturar polo com lacrosse". Além disso, por incrível que pareça para nós, o polocrosse não é um esporte recente: foi criado na Austrália, em 1938, pelo criador de cavalos Edward Hirsch e o jogador de polo Alf Pitty. Tudo começou quando a esposa de Hirsch estava lendo uma edição da revista English Horse Magazine, e chamou a atenção de seu marido para uma matéria que descrevia um exercício criado na Inglaterra para manter cavaleiros em forma: disputado em uma quadra coberta, ele usava antigas marretas de polo cujas cabeças eram substituídas por raquetes de squash com as cordas frouxas, que deveriam ser usadas para recolher do chão bolas de tênis, que eram então arremessadas em cestas suspensas tipo as do basquete. O casal, entusiasta dos esportes a cavalo, decidiria viajar para Inglaterra para conhecer esse exercício de perto, visando transformá-lo em um novo esporte, e retornou trazendo "raquetes" e um livro de regras. Hirsch, então, se reuniu com Pitty, e passou vários dias experimentando e refinando as regras, até chegar à sua versão final. Os dois decidiriam chamar o novo esporte de polocrosse, pois, durante esse processo, viram que as regras do lacrosse eram as que melhor se adequavam ao tipo de esporte que eles queriam.


O polocrosse é jogado ao ar livre, em um campo gramado, de 146,5 metros de comprimento por 55 metros de largura - ou seja, pouco maior que um campo de futebol. A 27,5 m de cada linha de fundo, paralelas a estas, são traçadas duas linhas que demarcam as chamadas áreas de gol; além delas, há duas marcações semelhantes à letra T, com linhas de 5 m cada, as verticais no centro exato do campo, as horizontais a 5 m de cada linha de lado; e dois semicírculos de 10 m de raio cada, centrados no meio de cada gol. Cada gol é formado por dois postes de 5 m de altura cada, espaçados 2,5 m um do outro; assim como no polo, os gols são feitos de material macio e não são fixos, devendo sair do lugar preferencialmente sem cair caso haja um choque de um dos cavalos contra um deles. Ao redor do campo, deve haver uma "zona de segurança", de 12 m a partir de cada linha de fundo e 3 m a partir de cada linha de lado, na qual somente podem ficar, e assim mesmo temporariamente, jogadores, árbitros e gandulas - contando com as zonas de segurança, o campo tem 170,5 m de comprimento por 61 m de largura.

Uma equipe de polocrosse é composta de seis jogadores, sendo que somente três deles estarão em campo ao mesmo tempo, e, como eles têm funções altamente especializadas, seus números são repetidos (dois jogadores jogam com o número 1, dois com o número 2 e dois com o número 3). O polocrosse possui quatro modalidades, a masculina (seis jogadores homens), a feminina (seis jogadoras mulheres), a mista (três homens e três mulheres, sendo que, em campo, sempre deve haver dois homens e uma mulher ou duas mulheres e um homem) e aberta (seis homens e mulheres em qualquer quantidade, no time e em campo). Cada equipe pode ter também dois reservas (que, no caso da modalidade mista, devem ser obrigatoriamente um homem e uma mulher, sendo que o homem só pode substituir outro homem e a mulher só pode substituir outra mulher), mas a substituição só pode ocorrer em caso de lesão ou contusão. No caso de um campeonato, a mesma equipe deve começar todos os jogos, e, caso haja uma substituição, o reserva toma o lugar do substituído até o final da competição.

Por falar nisso, ao contrário do que ocorre no polo, onde cada jogador pode usar até oito cavalos por partida, o polocrosse usa a regra do "one man, one horse", ou seja, cada jogador tem seu próprio cavalo, e deve utilizá-lo em todos os seus jogos, do início até o final. Caso um jogador seja substituído, portanto, seu cavalo também será substituído, devendo o reserva montar seu próprio cavalo. Existem apenas três exceções à regra do "one man, one horse", pelas quais um cavalo pode ser substituído mas o jogador que o montava não: caso o cavalo se lesione, mas o jogador não; caso o árbitro decida que o cavalo não é seguro; ou caso o veterinário da partida decida que o cavalo não tem condições de seguir jogando. Em todos os três casos, se desejar, o time oponente também poderá trocar um de seus cavalos, pois um cavalo descansado representa vantagem no jogo. Cada time deve fornecer seus próprios cavalos, não podendo pegar emprestado; os cavalos podem ser de qualquer raça, ter qualquer altura e qualquer idade a partir dos 6 anos, mas devem ser obrigatoriamente castrados, enxergar perfeitamente bem dos dois olhos, e não podem apresentar comportamento que possa resultar em perigo para os jogadores durante o jogo - como empinar de repente se assustado.

A bola é feita de borracha com núcleo de espuma, com entre 10 e 13 cm de diâmetro e pesando entre 140 e 155 gramas. O bastão é bem parecido com o do lacrosse, mas não idêntico, tendo cabeça oval como uma raquete de tênis. O bastão é feito de materiais como fibra de carbono, alumínio e titânio, e tem no mínimo 1 m de comprimento, mas não comprimento máximo. A cabeça é feita de plástico duro, não pode ter nenhum elemento de metal, e deve ter no máximo 21,3 cm de comprimento por 18,4 cm de largura; a rede é feita de couro e nylon, é frouxa, e tem no máximo 10,16 cm de profundidade. Cada jogador deve segurar o bastão com a mesma mão do início ao fim do jogo (segurando as rédeas com a outra), sendo proibido trocar o bastão de mão; jogadores canhotos podem segurar o bastão com a mão esquerda, mas cada time deve obrigatoriamente avisar ao árbitro principal de que há canhotos no time, e, antes de a partida começar, o árbitro principal deverá avisar a todos os jogadores da equipe oponente de que vão jogar contra um ou mais canhotos, e quais são os jogadores canhotos. O uniforme do polocrosse é composto de uma camisa nas cores do time, calças de montaria obrigatoriamente brancas, botas de montaria e um capacete especial, com três pontos de ligação com a cabeça do jogador; luvas são opcionais. Os cavalos usam selas, rédeas, ferraduras de polo e caneleiras, com essas últimas sendo da mesma cor do time, sendo proibidos acessórios como antolhos e ferraduras com anel externo.

A equipe de arbitragem é composta de dois árbitros, sendo que um, considerado o principal, acompanha os jogadores dentro de campo, a cavalo, e o outro acompanha o jogo a pé, da linha lateral; um juiz de cadeira, que acompanha o jogo sentado em uma cadeira alta; dois árbitros de gol, um posicionado atrás de cada gol; um juiz de tempo, que marca o tempo de jogo; e um juiz de placar, responsável por anotar os gols e faltas. O árbitro a pé, o juiz de cadeira e os árbitros de gol todos podem apitar faltas e chamar a atenção do árbitro principal para qualquer situação, mas a palavra do árbitro principal é final em todos os assuntos, até mesmo na validação dos gols, apontados pelos árbitros de gol.

Uma partida de polocrosse dura oito tempos chamados chukkas, de oito minutos cada, com intervalo de dois minutos entre um e outro. O relógio não para nunca, exceto em caso de atendimento médico ou veterinário, que devem durar um máximo de dez minutos cada, ou a critério do árbitro, que pode pedir, por exemplo, para que um jogador aperte o capacete, ou para um gol ser recolocado no lugar. Quando se esgota o tempo de um chukka, a bola continua em jogo, com o chukka só terminando de fato quando ela sai de campo ou quando ocorre uma falta; no caso de numa falta, ela será cobrada no início do chukka seguinte, exceto se for o último chukka, quando o jogo prossegue, ocorrendo a cobrança da falta, até a bola sair de campo. É possível um jogo terminar empatado, mas, caso seja um jogo eliminatório, que não possa terminar empatado, são jogados sucessivos chukkas de quatro minutos cada com morte súbita, ou seja, o primeiro time a marcar um gol vence a partida. Pelas regras do jogo, nenhum cavalo pode jogar mais de 54 minutos em uma única partida, tempo mais do que suficiente para que aconteçam dez prorrogações caso necessário.

Uma das principais características do polocrosse é a de que os trios de jogadores se alternam entre os chukkas, com um trio de camisas 1, 2 e 3 jogando os chukkas ímpares e o outro jogando os chukkas pares - na prática, portanto, se não houver prorrogação nem substituição, cada jogador e cada cavalo jogarão quatro chukkas. Os jogadores são altamente especializados, com o jogador que usa o número 1 sendo o atacante, o número 2 sendo o central e o número 3 sendo o defensor. Os jogadores devem permanecer com a mesma função (e camisa) durante todo o jogo, mas podem mudar de função (e camisa) para o jogo seguinte; quando um jogador é substituído, o reserva deve usar o mesmo número na camisa e cumprir a mesma função do que substituiu. Os números devem claramente ser visíveis nas costas de todos os jogadores, e opcionalmente nas mangas ou no peito.

Durante a partida, apenas os jogadores de número 1 podem marcar gols; isso ocorre porque, para um gol ser válido, o jogador deve arremessar a bola de dentro da área de gol, e apenas o jogador de número 3 do time que está defendendo e o de número 1 do time que está atacando podem entrar na área de gol. Essa regra foi criada para obrigar os jogadores a passar a bola entre si, com a maior parte das roubadas de bola ocorrendo durante os passes. Basicamente, durante uma partida, todos os jogadores ficam na área central do campo (entre as linhas das áreas de gol), até que um número 1 consiga a posse de bola, quando irá até a área de gol, acompanhado de seu marcador, o número 3 adversário, tentar marcar um gol. Uma peculiaridade das regras é que a bola não pode cruzar a linha da área de gol sendo carregada por um jogador, por isso, quando um número 1 dispara em direção à área de gol, ele joga a bola no chão para pegá-la novamente lá dentro; também é permitido que um número 1 entre na área de gol sem a posse de bola, para então receber um passe do número 2 - passes do número 3 para o número 1 são permitidos mas raríssimos, sendo a ordem normal de passe 3-2-1.

Um jogador com a posse de bola deve obrigatoriamente conduzi-la com o bastão fazendo um ângulo de 90 graus com o corpo do cavalo; para roubar a bola, um oponente pode bater na cabeça do bastão de baixo para cima, de forma a tirar a bola da rede e fazer com que ela caia no chão. A bola pode correr ou quicar pelo chão qualquer distância, mas o jogador não pode bater nela para impulsioná-la de propósito como no polo, devendo sempre tentar recolhê-la com sua rede. Para que um gol seja válido, a bola deve passar pelo meio dos postes, a qualquer altura, desde que o bastão do jogador que a lançou permaneça em sua mão, e que seu cavalo estivesse totalmente dentro da área de gol mas totalmente fora do semicírculo. Caso, durante o jogo, a bola saia pela lateral, o número 2 tem direito a cobrar uma falta do local onde ela saiu; caso saia pela linha de fundo, o número 3 cobra falta da linha da área de gol; em ambos os casos, todos os jogadores devem se posicionar a no mínimo 10 m do local onde a falta será cobrada, e ninguém pode tocar na bola até que ela tenha viajado 10 m. Assim como no basquete, se um cavalo pisar fora do campo ou na linha enquanto seu jogador tiver a posse de bola, se considera que a bola saiu.

No início do jogo e após cada gol, os jogadores número 1 de cada time se posicionam junto com o árbitro em um dos T do meio do campo, escolhido pelo árbitro no início e alternando o T a cada reinício a partir de então, com cada jogador de um dos lados da linha vertical, a no mínimo 3 m do árbitro, e o cavalo do árbitro sobre a linha horizontal; os jogadores número 2 devem ficar atrás do número 1, e os número 3 atrás do número 2, em uma distância menor que o corpo de um cavalo, mas de forma que nenhuma parte do corpo do cavalo de trás toque ou fique paralela com o cavalo da frente. O árbitro, então, joga a bola para cima, como no basquete, e o time que a pegar começa jogando. Como as equipes se alternam entre os chukkas, a mudança de lado das equipes ocorre a cada chukka ímpar, e não a cada chukka, senão cada trio jogaria sempre do mesmo lado. Como foi dito, se houve uma falta no final de um chukka, o chukka seguinte começará não com bola ao alto, mas com a cobrança da falta.

Por ser muito veloz e disputado, o polocrosse pode se tornar um esporte perigoso caso as regras não sejam cumpridas à risca. Suas muitas faltas incluem trocar o bastão de mão; atravessar a linha da área de gol tendo a posse de bola; carregar a bola sem o bastão estar a um ângulo de 90 graus com o corpo do cavalo; sair de campo ou cavalgar sobre as linhas laterais ou de fundo de propósito, com ou sem a bola; obstruir o número 3 para que ele não consiga marcar o número 1; cruzar o caminho de outro jogador de forma que o coloque em perigo; correr na direção de outro jogador; bater com o bastão no corpo, bastão ou cavalo de outro jogador; fazer com que seu cavalo se choque com o cavalo de outro jogador; fazer com que a cabeça de seu cavalo toque no corpo de outro jogador; fazer o cavalo empinar ou coicear; soltar as rédeas; segurar o pescoço ou crina do cavalo; bater no próprio cavalo; sacudir o bastão de forma a confundir os cavalos ou atrapalhar os jogadores; pegar ou conduzir a bola com a mão; conduzir a bola no colo; segurar o bastão com as duas mãos; lançar o bastão junto com a bola de propósito; golpear uma bola que está no chão com o bastão; passar por dentro do gol com o cavalo; desmontar do cavalo; e conduta antidesportiva, como xingar um oponente ou desobedecer o árbitro.

As faltas podem ser classificadas, de acordo com sua gravidade, em uma escala que vai de 1 a 4. Faltas classificadas como 1 são cobradas com um lançamento do time que sofreu a falta no local onde ela ocorreu, com todos os outros jogadores devendo ficar a 10 m de distância do que cobrará a falta, e nenhum podendo tocar na bola enquanto ela não viajar 10 m. Faltas classificadas como 2 são cobradas da linha da área de gol do time que sofreu a falta, com um lançamento diretamente para a frente, na direção do gol adversário, e nenhum oponente podendo tocar na bola antes que ela cruze a outra linha da área de gol ou que um jogador do time que cobrou a falta a toque. Faltas classificadas como 3 são o equivalente a um pênalti do futebol, cobradas pelo número 1 do time que sofreu a falta da linha da área de gol do time que cometeu a falta, com o número 3 do time que cometeu a falta podendo tentar defender, mas tendo de se posicionar a no mínimo 8 m do local onde a falta será cobrada, e não podendo tocar na bola antes de ela ter viajado 8 m. Faltas de número 4 resultam em um gol automático para o time que sofreu a falta. Dependendo da gravidade da falta, um jogador pode ser expulso, tendo de ficar fora do jogo durante três minutos; se o jogador fora de campo for o número 1 ou o número 3, o número 2 assume suas funções durante esses três minutos (com o time na prática jogando três minutos sem número 2).

Depois que Hirsch e Pitty inventaram o polocrosse, Pitty o apresentou aos jogadores de seu time, e, após algum período de treinamento, organizou uma partida de demonstração, em 1939, no Ingleburn Sports Ground, próximo a Sydney, onde jogavam. O polocrosse foi um sucesso instantâneo, e, naquele mesmo ano, surgiria em Ingleburn o primeiro clube de polocrosse do mundo. Demoraria um pouquinho, porém, para o esporte se espalhar para outras cidades: somente em 1946 seria fundado o segundo clube, em Burradoo, também próxima a Sydney; naquele mesmo ano, aconteceria a primeira partida entre clubes. Ao longo da década de 1950, o polocrosse se espalharia pela Austrália e Nova Zelândia, e, em 1958, cruzaria o oceano e chegaria à África do Sul. Dez anos depois, seria disputado o primeiro jogo internacional entre seleções de polocrosse, entre África do Sul e Rodésia (país que hoje se chama Zimbábue). Em 1971, a seleção da África do Sul visitaria a Austrália, para o primeiro jogo internacional dos australianos. O polocrosse só chegaria à Europa em 1978, quando os primeiros clubes seriam inaugurados no Reino Unido. Antes disso, em 1976, seria fundado o Conselho Internacional de Polocrosse (IPC, da sigla em inglês), até hoje o órgão máximo para a regulação do polocrosse no planeta, pelas federações nacionais da Austrália, Nova Zelândia, Papua Nova Guiné, África do Sul e Rodésia.

Infelizmente, apesar de ser tão antigo, o polocrosse ainda tem dificuldade em se tornar popular, tanto que, hoje, o IPC só conta com 16 membros, sendo 9 membros plenos (países nos quais o polocrosse é considerado desenvolvido, que contam com campeonatos nacionais) e 7 membros associados (países nos quais o polocrosse está em desenvolvimento, que contam apenas com campeonatos regionais). Curiosamente, existe também uma lista de "membros em potencial", países onde o polocrosse é praticado, mas não em campeonatos organizados, muitas vezes sequer com uma federação nacional, o que impede sua filiação ao IPC; fazem parte dessa lista, por exemplo, a Argentina, o Uruguai, o México, e, por alguma razão incompreensível, a Papua Nova Guiné, que foi membro fundador do IPC, mas hoje não consta de sua lista de membros. Até onde eu saiba, o polocrosse não é praticado no Brasil. A competição mais importante do polocrosse é a Copa do Mundo, disputada na modalidade aberta a cada quatro anos desde 2003; os dois únicos países que foram campeões são a Austrália, com três títulos (os dois primeiros e o mais recente) e a África do Sul, com dois.
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domingo, 14 de abril de 2019

Escrito por em 14.4.19 com 0 comentários

Surfe

E hoje é dia de finalmente terminar de falar sobre todos os esportes que farão parte do programa das Olimpíadas de 2020. Hoje é dia de surfe no átomo!

Originalmente, o surfe não era um esporte, sendo praticado, na Polinésia, durante festivais religiosos. Em determinado momento, a faceta religiosa da prática seria deixada de lado, e os polinésios passariam a surfar como passatempo, a qualquer momento em que estivessem na praia. O primeiro contato registrado de não-polinésios com o surfe ocorreria em junho de 1767, quando um grupo de exploradores britânicos a bordo do HMS Dolphin chegou ao Taiti. Mais de 100 anos se passariam, porém, antes que o surfe saísse da Polinésia: somente em 1885, quando três estudantes havaianos da escola St. Mathew’s Hall, na cidade de San Mateo, Califórnia, Estados Unidos, chamados David Kawananakoa, Edward Keli'iahonui e Jonah Kalaniana'ole, decidiriam relaxar durante o fim de semana surfando na cidade vizinha de Santa Cruz, o ocidente seria formalmente apresentado ao surfe. As exibições do trio, porém, seriam vistas por poucas pessoas, e não seriam suficientes para incentivar os norte-americanos a praticar o surfe, com exceção de alguns salva-vidas - dentre eles um tal de George Freeth.

No início do século XX, o magnata californiano Henry E. Huntington viajou de férias para o Havaí, e lá viu alguns jovens surfando. Ao retornar aos Estados Unidos, ele decidiria contratar alguns surfistas para se exibir em Redondo Beach, cidade litorânea na qual ele havia construído hotéis e resorts, mas não estava tendo o retorno financeiro esperado. Dentre os contratados estava Freeth, que, em 1907, se exibiria em frente ao Hotel Redondo. Em sua primeira exibição, Freeth tentaria usar uma das pranchas mais populares dentre os havaianos na época, que era enorme, com quase 5 metros de comprimento. Como não conseguiu surfar apropriadamente, ele quebraria uma delas no meio, inventando a prancha que hoje é conhecida como longboard. As exibições de Freeth seriam um enorme sucesso, e muitas pessoas passariam a viajar para Redondo Beach e se hospedar no Hotel Redondo apenas para assisti-las. Como também inventaria a maioria das manobras que fazia sobre as ondas, Freeth passaria a ser considerado o inventor do surfe moderno.

Mesmo com todo o sucesso de Freeth, entretanto, o surfe continuaria sendo um fenômeno local durante muitos anos. Sua disseminação pelos Estados Unidos e pelo resto do planeta se deveria a um havaiano, chamado Duke Kahanamoku. Além de um exímio surfista, Kahanamoku era um astro da natação, competindo em alto nível e participando de três Olimpíadas, em 1912, em Estocolmo, 1920, em Antuérpia, e em 1924, em Paris, onde ganharia três medalhas de ouro (100 m livre em 1912 e 1920, revezamento 4 x 200 m livre em 1920) e duas de prata (revezamento 4 x 200 m livre em 1912, 100 m livre em 1924). Durante suas viagens para competir, Kahanamoku sempre surfava, o que ajudaria a popularizar o surfe no resto dos Estados Unidos, na Europa e na Austrália. Antes mesmo da Segunda Guerra Mundial, já surgiriam os primeiros surfistas europeus e australianos.

Como ocorreu com quase todos os esportes, o surfe foi muito prejudicado pela Guerra, com o número de praticantes diminuindo severamente durante a década de 1940, e levando vários anos para crescer e se estabilizar novamente. O que ajudou no ressurgimento do esporte foi sua forte ligação com a cultura californiana: no início da década de 1960, o surfe, no imaginário popular, já estava muito mais ligado à Califórnia que à Polinésia, principalmente devido aos campeonatos que começavam a aparecer nas cidades litorâneas do estado norte-americano. Esses campeonatos atrairiam surfistas de várias nacionalidades, e, para evitar que o surfe se tornasse uma bagunça, em 1964 seria fundada, na cidade de San Diego, a Federação Internacional de Surfe, responsável por regular o surfe em todo o planeta e por organizar o mais importante campeonato do esporte, o Campeonato Mundial de Surfe, cuja primeira edição seria realizada ainda em 1964, tanto no masculino quanto no feminino.

Originalmente, o Mundial podia ser disputado apenas por surfistas amadores, ou seja, pessoas que tivessem um emprego qualquer e surfassem por hobby, não podendo receber dinheiro para surfar. Em 1973, porém, a ISF quase acabaria: com sérias dificuldades financeiras e muito atrito interno, ela se veria incapaz de organizar o Mundial, que correu o risco de ser cancelado. Para que isso não acontecesse, seu principal patrocinador, a vodca Smirnoff, decidiria assumir todos os custos de sua organização, renomeando-o para Smirnoff World Pro-Am Surfing Championships, e permitindo a participação de surfistas profissionais - ou seja, pessoas que não tinham outro emprego que não fosse surfar. Como a ISF não dava mostras de que conseguiria se reerguer, em 1976 um grupo desses surfistas profissionais, liderados por Fred Hemmings e Randy Rarick, que não estavam satisfeitos com a interferência da Smirnoff, decidiria fundar um novo órgão, chamado simplesmente Surfistas Profissionais Internacional (IPS).

Gerida pelos próprios surfistas, a IPS assumiria não somente a organização do Mundial, como também a regulação do surfe em todo o planeta, praticamente decretando o fim da ISF, que passaria os anos seguintes apenas organizando torneios amadores de pouca importância. As duas mais importantes modificações feitas pela IPS seriam a adoção do formato "mano a mano", usado até hoje, segundo o qual os surfistas entram na água de dois em dois, com o vencedor de cada embate avançando de fase (até 1976, todos os surfistas surfavam um por um, e o vencedor era o que recebesse as notas mais altas, o que era bem menos emocionante) e a transformação do Mundial em um circuito - ou seja, ao invés de apenas uma prova em um único local, uma série de provas em vários pontos do planeta, nas quais os surfistas iam recebendo pontos de acordo com suas colocações, e o campeão seria aquele que acumulasse mais pontos ao final da última. Esse sistema seria criado por dois surfistas, Peter Townend e Ian Cairns; originalmente, o Mundial de 1976 seria mais uma vez disputado em prova única, mas eles convenceriam Hemmings a conferir pontos para as 14 principais provas organizadas pela IPS naquele ano, criando, assim, o Ranking Mundial, usado até hoje - vale citar que, quando eles convenceram Hemmings a adotar a ideia, 9 das 14 provas já haviam sido disputadas, e, graças à atribuição retroativa dos pontos, Townend se tornou o primeiro campeão profissional de surfe da história.

Em 1980, para não morrer de vez, a ISF daria uma última cartada: mudaria seu nome para Associação Internacional de Surfe (ISA) e daria entrada em um pedido para ser reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional como a "verdadeira" federação internacional de surfe - o que seria concretizado em 1982. Isso diminuiria muito o poder da IPS; aproveitando o momento de fraqueza, Cairns sairia da IPS e, em 1983, criaria um novo órgão, a Associação dos Surfistas Profissionais (ASP), convencendo os organizadores de todas as principais provas da IPS a acompanhá-lo. O "ataque conjunto" de ISA e ASP foi demais para a IPS, que encerraria suas atividades no final de 1984. A ASP segue muito bem, e, em 2014, mudou de nome para Liga Mundial de Surfe (WSL).

O cenário, atualmente, é o seguinte: a ISA é a federação internacional do surfe, reconhecida pelo COI e responsável por regular o surfe em todo o planeta. Atualmente, ela conta com 101 membros, dentre eles o Brasil; devido à sua importância histórica para o surfe, o Havaí é um membro em separado, o que significa que surfistas nascidos no Havaí competem pelo Havaí, e não pelos Estados Unidos - o que não será o caso nas Olimpíadas, já que, como o Havaí não tem comitê olímpico próprio, os havaianos vão ter de competir pelos EUA, assim como ingleses, galeses e escoceses competem em separado nas competições da ISA, mas competirão juntos pela Grã-Bretanha nas Olimpíadas. A ISA organiza um campeonato anual chamado World Surfing Games, disputado em uma única prova, mas esse não é o principal campeonato do surfe, esse posto cabendo ao Circuito Mundial de Surfe, organizado pela WSL. Não há animosidade entre os dois órgãos: devido a uma sacada de Cairns, que desde o início buscou "fazer amizade" com a cúpula da ISA, a WSL é reconhecida pela ISA como uma espécie de parceira, e tem total autonomia para organizar o Circuito Mundial, desde que ele seja disputado de acordo com as regras da ISA.

As regras do surfe são muito simples: cada surfista possui um tempo pré-determinado para surfar o maior número de ondas possível, e, enquanto surfa, apresentar manobras, que serão julgadas por um painel de jurados. O número de jurados depende da competição; no Circuito Mundial, são escolhidos sete jurados para cada etapa, e, a cada bateria, são escolhidos cinco desses sete, sempre usando uma fórmula que garante que nenhum grupo de cinco seja idêntico em duas baterias, e que cada jurado julgue pelo menos uma bateria. Cada jurado confere uma nota de 0 a 10 para cada onda, levando em conta todas as manobras que o surfista fez naquela onda, sendo que a menor e a maior são descartadas e a nota recebida pelo surfista por aquela onda é a média das outras três. Não existe um número máximo de ondas que um surfista pode surfar a cada bateria, e as notas de todas elas são somadas para se determinar sua nota naquela bateria; independentemente do número de ondas que ele surfar, porém, a nota máxima de um surfista em cada bateria é sempre 20.

A cada bateria, os surfistas entram na água em grupos que podem ser de dois, três, ou quatro surfistas cada, e o tempo é compartilhado por todos; para evitar que apenas um surfe sem dar oportunidade ao outro, existem as regras da prioridade e da interferência: basicamente, tem prioridade o surfista que está mais perto do local onde a onda está se formando, sendo que os demais podem surfar a mesma onda, desde que não o atrapalhem; se o surfista que tem a prioridade for atrapalhado, é declarada uma interferência, e o surfista que atrapalhou sofrerá uma penalidade em sua nota - e um surfista que cause duas interferências contra o mesmo adversário está automaticamente desclassificado.

Uma competição de surfe é composta de várias fases (no Circuito Mundial cada etapa tem quatro fases preliminares, então as quartas de final, semifinais e as finais) sendo cada fase dividida em baterias de igual número de surfistas (por exemplo, todas as baterias da primeira fase devem ter três surfistas, não podendo haver uma com dois nem com quatro). Normalmente, apenas o vencedor de cada bateria (aquele que obtiver a maior nota dentre os que estão disputando aquela bateria) avança, mas pode ocorrer de o torneio contar com uma repescagem, ou de se classificarem os dois primeiros em uma bateria com três ou quatro. Na final, disputada em uma única bateria, o surfista que obtiver a maior nota será o campeão.

O equipamento mais essencial para a prática do surfe é a prancha, que, ao contrário do que muitos pensam, não é reta como uma tábua de passar roupa, e sim levemente curvada para cima. Existem diversos modelos de pranchas, com diversos desenhos diferentes de nariz, cauda e da parte de baixo; na parte de baixo, próximo à cauda, há um determinado número de barbatanas, normalmente entre uma e cinco, que servem para dar maior estabilidade. A prancha também possui um cabo que a prende ao tornozelo do surfista, para que, caso ele caia, ela não se perca no oceano. Originalmente, todas as pranchas eram feitas de madeira, mas, embora ainda sejam fabricadas hoje algumas desse material, o normal é que elas sejam feitas de poliuretano. Uma prancha de surfe de competição tem entre 1,80 e 2,10 m de comprimento e entre 47 e 57 cm de largura em sua parte mais larga.

Sendo um esporte que depende de ondas, o surfe é normalmente praticado no mar, com a estrutura da competição sendo montada em uma praia. Embora seja bastante possível realizar uma competição de surfe, por exemplo, em um rio com ondas, isso sempre foi um entrave às pretensões da ISA de incluir o surfe nas Olimpíadas, já que nem todas as praias do mundo contam com ondas apropriadas para a prática do esporte, e não se poderia exigir que toda cidade candidata ficasse próxima a uma praia própria para o surfe. Pensando nisso, durante muitos anos surfistas profissionais e amadores, entusiastas do esporte, e até a própria ISA, tentaram desenvolver uma espécie de "piscina de surfe", para que o esporte pudesse ser disputado em qualquer lugar.

Piscinas com ondas não são uma novidade, tendo sido inventadas ainda no século XIX, mas uma piscina que produzisse ondas que pudessem ser surfadas sem prejudicar a segurança dos surfistas ou dos espectadores se mostrou um desafio, e levou anos até sair do papel. Atualmente, a ISA autoriza dois modelos de piscinas para a prática do surfe, as fabricadas pela Kelly Slater's Wave Co., de propriedade do surfista Kelly Slater, e as do NLand Surf Park, um parque aquático localizado em Austin, Texas. Ambas usam o mesmo sistema, com uma espécie de trenzinho que corre pela lateral da piscina gerando a onda. Devido à natureza dessa onda, as regras para o "surfe de piscina" têm de ser diferentes, com cada surfista entrando na piscina sozinho e tendo direito a surfar duas ondas, uma criada quando o trenzinho vai, outra quando ele volta.

O campeonato mais importante do surfe, como já foi dito, é o Circuito Mundial de Surfe, organizado pela WSL, disputado desde 1976 no masculino e 1977 no feminino, e que atualmente conta com 11 etapas no masculino e 10 no feminino: Gold Coast (Austrália), Bells Beach (Austrália), Bali (Indonésia), Margaret River (Austrália), Saquarema (Brasil), Jeffrey's Bay (África do Sul), Teahupo'o (Taiti, somente no masculino), Surf Ranch (Estados Unidos, etapa disputada em piscina), Seignosse (França), Peniche (Portugal) e Pipeline (Havaí). O maior campeão no masculino é o norte-americano Kelly Slater, com 11 títulos; no feminino, duas australianas, Layne Beachley e Stephanie Gilmore, dividem a honraria com sete títulos cada. O Brasil tem três títulos mundiais no masculino, dois com Gabriel Medina (2014 e 2018) e um com Adriano de Souza (2015). É interessante registrar que a a WSL considera como campeões mundiais não só os surfistas que obtiveram títulos no Circuito Mundial WSL/ASP, mas também no da IPS (entre 1976 e 1982, por isso se considera que o Circuito Mundial é disputado desde 1976), no Smirnoff World Pro-Am Surfing Championships (entre 1973 e 1975) e no Campeonato Mundial da ISF (entre 1964 e 1972).

O Circuito Mundial possui uma fórmula para determinar quais serão os surfistas que irão competir a cada temporada, e que conta com acesso e descenso: os resultados de cada surfista em cada etapa valem pontos para o Ranking Mundial, e, ao final da última prova, não somente o primeiro do ranking é coroado campeão, mas também os dez últimos do ranking são "rebaixados", e, no ano seguinte, terão de disputar a World Qualifying Series (WQS); em compensação, os dez primeiros do ranking da WQS são promovidos, e disputarão o Circuito Mundial do ano seguinte. Diferentemente do Circuito Mundial, o WQS não é uma série fechada de etapas, e sim um conjunto de provas com diferentes valores em pontos para o ranking - mais ou menos como ocorre com os torneios de tênis. O calendário do WQS de 2019, por exemplo, conta com 7 provas que valem 10.000 pontos cada para o campeão, 7 que valem 6.000 pontos cada, 15 provas que valem 3.000 cada, 17 que valem 1.500, e que 18 valem 1.000, para um total de 64 provas - sendo quatro delas no Brasil, em Fernando de Noronha, Ubatuba (ambas de 6.000 pontos), Maresias (3.000 pontos) e Itacaré (1.000 pontos). Via de regra, as etapas de menos pontos são destinadas aos iniciantes, e as de mais pontos aos mais experientes.

Desde 1980, a ISA também organiza seu próprio mundial, chamado World Surfing Games, mas, diferentemente do Circuito Mundial, ele é disputado em uma única etapa. Cada país pode classificar um máximo de três surfistas no masculino e três no feminino, e são conferidas medalhas para o masculino, para o feminino, e por equipes (somando os resultados de todos os surfistas de um mesmo país, no masculino e no feminino). Os World Surfing Games foram disputados a cada dois anos de 1980 a 2008, e anualmente desde então; curiosamente, a ISA também considera os campeões da ISF, entre 1964 e 1972, como campeões dos World Surfing Games. O Brasil possui dois títulos dos World Surfing Games no masculino, com Fábio Gouveia (1988) e Fábio Silva (2000), e três no feminino, com Alessandra Vieira (1994), Alcione Silva (1998) e Tita Tavares (2000), além de ter sediado o evento duas vezes, em 1994 em Saquarema, Rio de Janeiro, e em 2000 em Maracaipe, Pernambuco.

A ISA reconhece três modalidades do surfe. A principal, sobre a qual eu falei até agora, é conhecida apenas como surfe mesmo. As outras duas são o longboard e o big wave. Em ambas, as regras são as mesmas explicadas até agora: os surfistas vão para a água, em um tempo pré-determinado surfam a maior quantidade de ondas possível, recebem notas de acordo com suas manobras, e aquele que tiver a maior nota é o vencedor. A estrutura da competição do longboard também é idêntica à descrita até agora, com os surfistas entrando na água em baterias, e o vencedor de cada bateria avançando, até que só reste o campeão. Na verdade, a única diferença do longboard é a prancha, bem mais comprida que uma prancha tradicional (por isso seu nome, que, literalmente, significa "prancha comprida"): uma prancha de longboard tem entre 2,43 e 3,7 m de comprimento e entre 56 e 63,5 cm de largura na parte mais larga. O formato da longboard também é ligeiramente diferente de uma prancha tradicional, com um nariz mais arredondado e uma largura mais uniforme ao longo do corpo.

O longboard faz parte dos World Surfing Games no masculino desde 1988, e no feminino desde 2013. O Brasil tem cinco títulos, todos no masculino, com Alexandre Salazar (1998), Marcelo Freitas (2000, 2002, 2004) e Rodrigo Sphyer (2010). A WSL também organiza um Circuito Mundial de longboard, desde 1986 no masculino e 1999 no feminino; atualmente, ele conta com 10 etapas: Queensland (Austrália), Porto (Portugal), Saquarema (Brasil), Kingscliff (Austrália), Cottesloe (Austrália), Cornualha (Inglaterra), Galícia (Espanha), Long Beach (Estados Unidos), Maresias (Brasil) e Jinzun (Taiwan). O Brasil tem dois títulos no masculino, com Phil Rajzman (2007 e 2016). O maior campeão no masculino é o australiano Nat Young, com quatro títulos, e no feminino é a norte-americana Cori Schumacher, com três.

Já em uma competição de big wave, por questões de segurança, os surfistas entram na água um a um, surfam uma única onda cada, e, depois que todos tiverem surfado, o que obtiver a maior nota é o campeão. Big wave, em inglês, significa "onda grande", mas "grande", nesse caso, é até um eufemismo, já que as ondas para essa modalidade devem ter no mínimo 6 m de altura, e podem passar de 20 m de altura em algumas provas - o equivalente a um prédio de 8 andares. Para alcançar essas ondas e obter a velocidade necessária para surfá-las, muitos surfistas usam uma técnica conhecida como tow-in, com a qual eles são "rebocados" até a onda por um jet ski. O comprimento e a largura da prancha para o big wave variam de acordo com o tamanho da onda e se o tow-in está sendo ou não utilizado; sem tow-in, uma prancha de big wave costuma ter entre 2,10 e 3,7 m de comprimento, mas, com o tow-in, devido ao ganho de velocidade e a já começar dentro da onda, elas podem ter entre 2,10 e 2,40 m de comprimento. A largura é sempre entre 47 e 57 cm na parte mais larga, o que faz com que a prancha do big wave se pareça com uma prancha tradicional com o comprimento de uma longboard.

Como não é qualquer praia que tem ondas de mais de 6 metros de altura, o Circuito Mundial de big wave da WSL conta com apenas três etapas: Nazaré (Portugal), Pe'ahi (Havaí) e Half Moon Bay (Estados Unidos). O Circuito Mundial de big wave é disputado desde 2009 no masculino e 2016 no feminino; o Brasil ganhou a edição inaugural do masculino com Carlos Burle. O maior campeão no masculino é o sul-africano Grant Baker, com três títulos, e, no feminino, é a havaiana Paige Alms, com dois. A ISA não organiza um campeonato regular de big wave; ela até tentou criar um Mundial de Big Wave disputado em 1998 no México, disputado apenas no masculino e vencido pelo brasileiro Carlos Burle, mas que jamais passou da primeira edição. Vale citar também que uma das maiores atletas do big wave hoje é uma brasileira, Maya Gabeira, que detém o recorde de maior onda já surfada por uma mulher, com 20,8 m de altura, em 2018, em Nazaré, Portugal.

O surfe também possui uma versão paralímpica, cujo nome oficial é adaptive surfing. Regulado pela ISA desde 2014, o adaptive surfing segue as mesmas regras do surfe tradicional, mas, como outros esportes paralímpicos, divide os surfistas em classes, para que haja maior justiça na competição: na classe AS-1UL competem os surfistas que tenham deficiências nos membros superiores, mas são capazes de surfar de pé ou agachados; na AS-1LL competem os que tenham deficiências nos membros inferiores, mas são capazes de surfar de pé ou agachados; na AS-2 competem os que são capazes de surfar de pé ou agachados, mas não se enquadram em nenhuma das duas categorias anteriores; na AS-3 competem os que só são capazes de surfar sentados; na AS-4 os que só são capazes de surfar deitados de bruços; na AS-5 os que são capazes de surfar ajoelhados, sentados ou deitados, e precisam de ajuda para chegar até a onda e para retornar à praia; e nas classes AS-VIB1, AS-VIB2 e AS-VIB3 competem os deficientes visuais, sendo que, quanto mais alto o número, mais severa é a deficiência.

O adaptive surfing é considerado um dos esportes paralímpicos que mais crescem no mundo, o que pode ser notado pelo aumento cada vez maior de participantes no principal campeonato da modalidade, o Campeonato Mundial de Adaptive Surfing da ISA, organizado anualmente desde 2015. O Brasil já ganhou oito títulos no adaptive surfing: três com Fellipe Kizu Lima (2015, 2016 e 2018, AS-3), um com Davi Teixeira (2016, AS-5), Alcino Neto (2017, AS-2), e Henrique Saraiva (2018, AS-2), e dois títulos na prova por equipes, em 2016 e 2017. Apesar de o surfe ter sido incluído no programa das Olimpíadas de 2020, o adaptive surfing não foi incluído no programa das Paralimpíadas do mesmo ano, e a ISA luta por sua inclusão no programa das Paralimpíadas de 2024, que serão realizadas em Paris, França.

Além do surfe, a ISA regula outros dois esportes, o stand up paddle (que eu vou deixar para outra ocasião) e o bodyboarding - embora, com o bodyboarding, haja uma certa controvérsia: assim como ocorre com o surfe, o principal campeonato de bodyboarding do mundo, também chamado Circuito Mundial, não é organizado pela ISA, e sim pela Associação dos Bodyboarders Profissionais (APB); diferentemente do que ocorre com o surfe, entretanto, a ISA e a APB não são parceiras, e a ISA, desde 2011, tenta convencer a APB a se fundir com ela, efetivamente desaparecendo. Fundada em 1993, e hoje contando com 71 membros dos cinco continentes, incluindo o Brasil (e o Havaí, como no surfe), a APB jamais aceitou as propostas da ISA, e até hoje se descreve como "a única organização que regula o bodyboarding profissional no planeta". Infelizmente para ela, porém, como a ISA é que é reconhecida pelo COI, se algum dia o bodyboarding entrar para as Olimpíadas, será pelas regras da ISA, e não pelas da APB.

Assim como o surfe, o bodyboarding foi inventado na polinésia, ninguém sabe quando - o primeiro registro de um não-polinésio tendo contato com o esporte data de 1778, quando o Capitão James Cook, famoso explorador britânico, escreveu em seu diário ter visto jovens praticando o bodyboarding no Havaí. Diferentemente do que ocorre com o surfe, no qual os surfistas se posicionam sobre a prancha de pé, no bodyboarding os bodyboarders se posicionam deitados de bruços, segurando a prancha com as duas mãos (daí o nome do esporte, que significa algo como "usar uma prancha de corpo"), e normalmente surfam a onda até que ela os leve até a areia, realizando as manobras no caminho. Uma competição de bodyboarding segue o mesmo esquema de uma competição de surfe, com os bodyboarders sendo divididos em baterias e os vencedores de cada bateria avançando até que só reste o campeão. Uma prancha de bodyboarding é bem menor que uma prancha de surfe, porém mais larga, tendo entre 97 e 109 cm de comprimento e entre 55 e 65 cm de largura.

Assim como as primeiras pranchas de surfe, as primeiras pranchas de bodyboarding eram feitas de madeira, o que as tornava difíceis de usar por iniciantes, e fez com que o esporte demorasse a se popularizar. Isso começaria a mudar em 1971, quando o engenheiro norte-americano Tom Morey, nascido em Detroit, mas que viveu grande parte de sua vida entre a Califórnia e o Havaí, inventou um novo tipo de prancha, mais alta que as usadas na época e feita de vários tipos de espumas e plásticos, o que a deixava bem mais leve e muito mais fácil de ser utilizada para o bodyboarding, já que flutuava muito mais facilmente. Morey batizaria sua prancha como Boogie Board, e criaria uma fábrica chamada Morey Boogie - razão pela qual, na década de 1980, quando o esporte começou a se popularizar no Brasil, quase todo mundo o chamava de Morey Boogie ao invés de bodyboarding. Com o advento da Boogie Board, o bodyboarding sofreu uma explosão de popularidade, mas só começou a ser levado a sério como esporte quando o havaiano Mike Stewart, considerado o pai do bodyboarding moderno, demonstraria uma série de manobras, muitas delas usadas até hoje, durante uma competição em Pipeline.

O campeonato mais importante do bodyboarding é o Circuito Mundial da APB, disputado desde 1982 no masculino e 1987 no feminino. Até 1993, entretanto, ele não era um Circuito Mundial, e sim uma única prova, disputada no final do ano, em Pipeline, com o nome de International Morey Boogie Bodyboard Pro Championships; a primeira edição do Circuito Mundial, com várias etapas, seria disputada em 1994, ano no qual o título do International Morey Boogie Bodyboard Pro Championships também foi disputado, o que fez com que houvesse dois campeões mundiais de bodyboarding em 1994 no masculino e duas campeãs mundiais no feminino. Atualmente, o Circuito Mundial conta com 10 etapas: Pipeline (Havaí), Itacoatiara (Brasil), Iquique (Chile), Antofagasta (Chile), Arica (Chile), Kiama (Austrália), Sintra (Portugal), Viana do Castelo (Portugal), Casablanca (Marrocos) e Gran Canaria (Espanha). O maior campeão no masculino é o já citado havaiano Mike Stewart, com nove títulos; no feminino, é a brasileira Neymara Carvalho, com cinco. Além dos cinco títulos de Neymara (em 2003, 2004, 2007, 2008 e 2009), o Brasil tem outros 21 títulos no feminino: quatro de Glenda Koslowski (sim, aquela que hoje é repórter da Globo, em 1987, 1988, 1989 e 1991), quatro de Stephanie Pettersen (1990, 1993, 1994 e 2002), quatro de Isabela Souza (2010, 2012, 2013 e 2016), três de Mariana Nogueira (1992, 1994 e 1998), dois de Daniela Freitas (1996 e 1997), dois de Soraya Rocha (2000 e 2001), um de Claudia Ferrari (1995) e um de Karla Costa (1999) - dos 33 títulos disputados até hoje, só sete não ficaram com as brasileiras, e a primeira não-brasileira a ganhar o título foi a australiana Kira Llewellyn, já em 2005. No masculino, o Brasil tem oito títulos, sendo seis de Guilherme Tâmega (1994, 1995, 1996, 1997, 2001 e 2002), um de Paulo Barcellos (2000) e um de Uri Valadão (2008).

A ISA tentou criar um Mundial de Bodyboarding, disputado entre 2011 e 2015, que contava com provas masculinas, femininas e por equipes, que acabou cancelado por falta de interesse dos principais atletas da modalidade. O Brasil ganhou três títulos por equipes, em 2012, 2013 e 2015 (os outros dois ficaram com a França e com o Chile); dois no feminino, com Isabela Souza (2012) e Neymara Carvalho (2013); e dois no masculino, com Éder Luciano (2013 e 2015).

O bodyboarding possui uma modalidade em separado chamada drop knee, na qual o bodyboarder compete não deitado, mas ajoelhado na prancha, segurando-a com apenas uma das mãos (knee, em inglês, significa "joelho"). Desde 2005, a APB realiza o Circuito Mundial de drop knee, somente no masculino, e nas mesmas etapas do Circuito Mundial de bodyboarding. O maior campeão da modalidade é o havaiano Dave Hubbard, com oito títulos.
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